Por estes dias, a PT segue o caminho do declínio (representativo do colapso do sonho do “tigre português”), o fantasma da deflação europeia volta aos jornais (com 5 países da zona Euro, em teoria, em deflação) e o Governo apresenta o seu novo orçamento, vazio de apostas em competitividade. Simultaneamente, o petróleo atinge um novo mínimo dos últimos anos (o que são boas notícias nas carteiras, rapidamente contrariadas no próximo ano com alguns impostos verdes, mas más notícias sobre o estado da economia global). Infelizmente, estes são apenas alguns factos entre toda uma babel de apontamentos.
Mas a nossa atenção prende-se num outro dado interessante, o maior corte da despesa do Estado para o orçamento do próximo ano regista-se na Educação, ao nível do Ensino Básico e Secundário, verificando-se um decréscimo da despesa de 11,3% face a 2014. A despesa no Ensino Superior cai também 1,5%. A esta notícia junta-se a polémica avaliação dos Centros de Investigação, que influenciará o financiamento da ciência nos próximos anos. Neste processo e a posteriori, de forma inicialmente “secreta”, foram estabelecidas quotas para a percentagem de centros que deveriam ser avaliados com uma nota específica. Outras críticas se juntam a esta, como o facto de, na maioria dos casos, centros terem sido afastados por pontos de avaliação subjetiva e não quantitativa, o facto das análises estatísticas permitirem verificar que centros de maiores dimensões foram avaliados mais favoravelmente (baixando assim o encargo do Estado por investigador, mesmo quando, em muitas áreas, não existe uma ligação entre dimensão e output científico) e, finalmente, dois dados importantes: por um lado, os relatórios de alguns dos auditores externos foram ignorados na avaliação final e, por outro, o facto de nenhum centro de investigação pertencente exclusivamente a um Politécnico ter passado à segunda fase do processo de avaliação.
Se a diminuição da despesa do Ensino Secundário foi justificada com a demografia (não vejo que tenha havido um decréscimo na população estudantil de 11,3% num ano), já o continuado desinvestimento no Ensino Superior é apenas mais um passo da política cega deste Governo. Como afirmado mil vezes, as despesas em educação e ciência são as que têm maior poder de impacto na competitividade das regiões e países. No caso aqui relatado ao nível da avaliação da ciência, ficamos a pensar que se o Governo fosse tão engenhoso a pensar no futuro da competitividade do país como o é a arranjar formas para cortar despesa reprodutiva, estaríamos há muito fora da crise.