Crónicas de Gestão | Jornais, Hambúrgueres e “Janelas”

As vendas de anúncios da empresa Google representam hoje mais do dobro do total das vendas de anúncios em jornais. Este é um dado extraordinário, que representa mais uma das mutações que temos apregoado nestas páginas. Por um lado, temos mais um sinal da “destruição criativa” de Schumpeter, com novos setores a substituírem os antigos (novos setores, que nascem na maioria dos casos, como concorrentes indiretos – há 16 anos, qualquer Jornal olharia para o Google como “apenas” um motor de busca). Por outro lado, verificamos de novo a tendência para os novos setores serem muito menos “trabalho intensivo” do que os antigos. Hoje, a indústria da imprensa moveu-se para a internet e procura ainda novos modelos de receita, que permitam a sua sobrevivência. No limite, a mesma continuará a existir como um mercado de nicho (há sempre um público específico que lê imprensa escrita e anunciantes que os procuram atingir).

A empresa McDonald’s, depois de um boom ligado à crise que evidenciou a procura de comidalow cost, registou a maior quebra mensal de receita global dos últimos 20 anos – 3,8%. Neste caso, esta empresa que tem conseguido prosperar como uma verdadeira máquina de eficiência alimentar (a capacidade de produção e de logística global da empresa é excecional), enfrenta hoje uma panóplia de alternativas quase tão baratas, mas com uma qualidade percebida maior (veja-se o caso da cadeia nacional H3, um caso de estudo de sucesso a diversos níveis) ou com um apelo saudável, que não é, para já, replicável dentro da empresa. No fundo, a empresa tem, tal como os jornais, uma necessidade de evoluir para acompanhar as tendências socioculturais.

Finalmente, a empresa Microsoft (MSFT) parece perceber a evolução dos tempos demonstrando “capacidades dinâmicas” (capacidade de uma empresa aprender a fazer algo novo), sendo hoje a 4ª maior empresa global em termos de capitalização. Na verdade, a MSFT está hoje centrada em serviços empresariais (do software de gestão ao mais prosaico Office), o que explica o facto do crescente poderio da Apple no mercado residencial e móvel não ter impedido o seu crescimento.

 

Resumindo, depois de gloriosas décadas, a imprensa cai nas malhas da tecnologia, enquanto o McDonald’s luta hoje com uma consciencialização que resulta, em parte, também do facto da informação sobre produtos, alimentos e saúde estar acessível em todo o mundo (gerando milhões de pesquisas que enriquecem o Google). Finalmente, a MSFT reaprendeu a “andar”, substituindo os seus velhos modelos de receita por uma nova forma de competir.