Crónicas de Gestão | A “epresa-nação”

Recentemente, Paul Krugman alertou, uma vez mais, para um facto óbvio para a maioria dos economistas, mas difícil de aceitar para a maioria dos empresários de sucesso e, já agora, para os nossos atuais governantes (que só acidentalmente aparecem aqui junto à palavra “sucesso”): uma Economia não é uma empresa! O sucesso nos negócios não é construído através do desenvolvimento de “teorias gerais da empresa”, mas percebendo oportunidades antes dos outros, encontrando produtos ou inovações organizacionais que geram valor para o cliente (e que não podem ser facilmente imitados). Sendo assim, algumas das receitas, normalmente preconizadas para uma empresa, poderão não ter o impacto esperado na Economia. Um empresário de sucesso procurará, entre outras coisas, cortar custos (diminuindo, por exemplo, custos do endividamento e tornando-se mais eficiente – investindo em tecnologia, o que poderá levar a menos emprego), criando novos produtos geradores de valor e diversificando mercados (conquistando novos clientes).

Ora, para uma Economia ser uma empresa, todos os produtos seriam maioritariamente vendidos aos seus empregados e apenas uma minoria a clientes externos (para além do facto de numa Economia haver milhares de unidades de negócio em competição – com feedbacks muitas vezes negativos – o que não acontece mesmo nas maiores empresas do mundo). Na nossa “empresa-nação” cortar custos significa aumentar o desemprego (e menor procura dos seus próprios bens). O emprego apenas poderá aumentar se a “empresa-nação” puder gastar mais na sua folha de ordenados, usando crédito/”fazendo dinheiro”, por forma a mais trabalhadores terem salário e comprarem os bens que a própria “empresa-nação” produz (o outro caminho passa por esperar que mais clientes externos nos comprem bens para podermos empregar trabalhadores – no entanto, não nos podemos esquecer que a Balança de Pagamentos tem sempre um saldo nulo, pelo que um superavit na balança de transações significa, necessariamente, um valor contrário na balança de capital e/ou financeira – algo que não existe numa empresa).

A estratégia de impressão de dinheiro obviamente tem como limite o excesso que geraria inflação generalizada (sendo exatamente o contrário do que vemos hoje). Estes são apenas alguns breves apontamentos de como uma Economia não é igual a uma empresa (as ações individuais de uma empresa não têm, geralmente, impacto direto em preços, taxas de câmbio, inflação, etc.), mas são suficientes para refletir que as soluções que, por vezes, nos parecem óbvias não são diretamente aplicáveis. Talvez Portugal e a UE se tenham esquecido destas simples lições, ou a Alemanha as tenha percebido bem de mais.