Crónicas de Gestão | Inovação social

Neste momento ser-me-ia certamente fácil escrever sobre a forma como a sociedade portuguesa parece esboroar-se de escândalo em escândalo. Na verdade, como já referi nestas linhas, a surpresa é não haver supressas, porque um sistemas político reflete, ainda que não totalmente, a sociedade em que está alicerçado. Desta forma, decidi derivar para um tema conducente de maior esperança – a inovação.

A difusão de novos produtos (vulgo Inovação) num sistema socioeconómico pode ter consequências tanto positivas como negativas (por exemplo, o desemprego). Usualmente, novos produtos beneficiam aqueles que os utilizam, havendo uma tendência para, à medida que são adotados, beneficiarem toda a sociedade e, no caso de grandes inovações, mudarem a face do mundo (veja-se o caso do transístor, do carro, da energia elétrica ou do “vapor”). Todavia, existem inovações que têm na raiz da sua conceção um imperativo social. Investigadores americanos desenvolveram uma incubadora neonatal concebida com peças de automóvel. Este é um exemplo extraordinário porque, em países em desenvolvimento, equipamentos sofisticados raramente têm a assistência adequada, o que leva à sua incapacitação. Utilizando peças de carros populares nestes países, estes investigadores criaram automaticamente um sistema abastecimento de peças alternativas. Óculos com lentes de água são um outro exemplo de inovação social. Com um custo baixo, eles são hoje difundidos por países como a Índia, permitindo a correção de problemas oculares a milhões de pessoas sem possibilidade de adquirir lentes tradicionais.

No Quénia, um sistema bancário por sms, engloba hoje 80% das transações no país. Em alguns países existe uma geração de milhões de pessoas com contacto com internet e dispositivos móveis (cujas torres são de mais fácil instalação), mas que nunca teve uma televisão, eletricidade ou uma conta bancária. Ao criar um sistema de pagamentos e de transferências (o M-Pesa), as empresas de telecomunicações do Quénia geraram a possibilidade de acesso de milhões de pessoas a um sistema bancário e uma diminuição de corrupção (as empresas pagam salários por sms, evitando desvios de fundos por chefes menos escrupulosos). Para um exemplo mais local, veja-se o caso da AFA, com o seu programa Speak, que cumpre objetivos sociais na aprendizagem de línguas, integrando imigrantes como professores e alunos. Na conceção e introdução de novos produtos vemos assim um caminho em que mercado e solidariedade parecem coexistir, alimentando a esperança de um mundo mais moderno, mas também mais inclusivo.