Um dos milagres do sistema capitalista (quando não degenera em monopólios) está relacionado com a necessidade de competir criando produtos cada vez melhores e mais baratos. Muitas vezes existem coisas que damos por garantidas que resultam de dezenas de anos de competição e de progresso tecnológico.
Um interessante exemplo recente, publicado num Blog online, calculava que o custo de uma camisa na idade-média seria equivalente a 3500 dólares. Esta estimativa tinha em conta valores atuais de salário mínimo/hora e o número de horas necessário para fazer o tecido e depois a camisa em si (cerca de 479 horas de trabalho). Esta estimativa, mais ou menos precisa, explica porque a maioria da população que não pertencia à nobreza ou ao clero possuía apenas um par de calças e uma camisa (ou 2-3 vestidos). Hoje, graças aos progressos da industrialização, o preço de custo da maioria das peças de roupa que usamos ronda 1€. Este raciocínio poderia ser aplicado a itens de comida, automóveis, viagens de avião, televisões, computadores, smartphones ou aspirinas.
O progresso tecnológico, as economias de escala (diminuição de custos médios com aumento da produção), economias de experiência e variedade, permitem que tenhamos um estilo de vida progressivamente melhor. Desta forma, devemos sempre ter algum cuidado na crítica ao sistema capitalista, porque com todos os defeitos que possa ter (como o aumento recente de desigualdade, problemas ambientais, etc.) ele é responsável pelo aumento da qualidade de vida global (percentualmente muito menos pessoas vivem hoje em subsistência do que há 50/100/200 anos).
Esta deflação decorrente do progresso tecnológico (do lado da oferta) é uma virtude fantástica que não deve ser confundida com a deflação que enfrentamos hoje na Europa, que tem consequências nefastas na economia como um todo. A deflação, que hoje sentimos, gera problemas nos mercados financeiros (aumentando o valor das dívidas), leva ao adiamento de decisões de investimento (porque apesar de tudo, à medida que a deflação aumenta a taxa real de juro tende a aumentar) e gera graves problemas no mercado laboral (os salários são relativamente inflexíveis no sentido da redução, pelo que será mais provável que as empresas despeçam pessoas ou não contratem, gerando maior desemprego). Estes efeitos combinados podem gerar uma espiral deflacionária com graves consequências no produto de um país/região.