Crónicas de Gestão | A culpa é do tempo

Vítor Ferreira

Diretor Executivo da D. Dinis, Business School

 

Como é do conhecimento geral, existe um imperativo climático que tem sido abordado por economistas e sociólogos, que liga o desenvolvimento económico ao clima do país. Um pouco por todo o mundo, a evidência empírica diz-nos que os países mais frios são mais ricos do que os mais quentes. A Suécia e Alemanha são mais ricas do que Portugal e a Grécia, mas Portugal e a Grécia são países mais ricos do que Marrocos e África do Sul, que por sua vez são mais ricos do que o Congo (ou São Paulo é mais produtivo do que o Rio de Janeiro).

Os economistas geralmente assumem complicados impactos indiretos, por meio dos quais o clima altera o desenvolvimento institucional (ver, por exemplo, Acemoglu e Robinson) ou atribuem estes factos a coincidências históricas. Mas dois investigadores, Tatyana Deryugina e Solomon Hsiang, mostram, num artigo recente, que na verdade parece existir um efeito direto sobre a produtividade, demonstrando que os dias quentes são maus para a economia – e não apenas em países pobres com uma força de trabalho predominantemente agrícola, mas também nos Estados Unidos da América. Eles estimam que nos EUA, “a produtividade diária individual diminui cerca de 1,7% para cada aumento de 1,8° F na temperatura acima de 15 graus celsius”. Isto significa que “um dia de semana acima de 30 ° C custa em média 20 dólares por pessoa”. Os autores mostram ainda que dias quentes ao fim de semana não terão impacto na produtividade (note-se que os autores controlaram estatisticamente vários fatores que poderiam explicar o declínio da produtividade em cada condado dos EUA).

Este dado, a ser verdadeiro, tem enormes implicações, alargando largamente as consequências negativas do aquecimento global para além dos óbvios impactos diretos (como seca extrema, subida do mar, etc.). Mas também diz algo sobre nós como país. Estarão os Gregos e os Portugueses condenados a uma menor produtividade e menor crescimento? A resposta não é trivial, porque climas quentes poderão ser também mais favoráveis à criatividade, à vontade de inovar ou para explorar diferentes alternativas. Numa economia em que o conhecimento e a criatividade serão os principais recursos, e o trabalho mecânico é feito por robots, talvez o nosso imperativo climático seja uma vantagem competitiva. E, finalmente, quando conseguimos ser produtivos, mostramos que “apesar do clima” chegamos tão longe como os outros países.