Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Retomamos aqui uma reflexão sobre os novos modelos de negócio e o seu impacto na economia moderna. Um destes modelos, que já apontámos nestas páginas, é o da Uber, empresa americana que está a revolucionar o mercado dos transportes, com a sua aplicação que permite contratar ao preço mais competitivo o condutor de viatura mais perto de si, para um determinado destino. O potencial disruptivo da aplicação tem sido combatido pelos condutores profissionais (taxistas), cujo modelo de negócio dificilmente se coaduna com este.
Uma avaliação menos prudente desta empresa coloca o seu valor de mercado em cerca de 35 mil milhões de dólares, o que representa cerca de 3 vezes o valor da empresa de aluguer de automóveis Hertz ou acima de qualquer empresa privada de táxis, facto que não deixa de ser relevante, uma vez que estes são negócios que a empresa acaba por desconstruir (os planos da empresa são para no futuro operar frotas de automóveis autónomos, diminuindo a posse de carros na maioria dos mercados). Ora, as empresas de aluguer ou as empresas de táxis têm combatido este modelo, alegando a sua insegurança e o facto de estes não serem condutores licenciados. Esta atitude é um reflexo do que tem acontecido em outros setores como sejam a distribuição de música, de filmes ou de jogos, onde os incumbentes têm batalhado com ferramentas legais quási opressivas a pirataria e outros fenómenos.
No entanto, no meio desta opressão, novas empresas com novos modelos têm prosperado (modelos que privilegiam a eficiência pela tecnologia). No caso da música, a Apple com o seu Itunes, ou o Spotify com sua música on demand são exemplos de como ter sucesso mesmo com pirataria, da mesma forma que o Netflix com a sua distribuição direta de filmes e séries o tem conseguido ou ainda a empresa Valve, que criou a plataforma virtual de venda de jogos de PC, onde é possível adquirir jogos a preços muito reduzidos e usufruir de uma integração numa comunidade. O que todas estas empresas têm em comum é ter aproveitado as novas tecnologias para criar valor, mesmo quando a existência de uma alternativa ilegal a preço zero parece existir. No fundo, as empresas instaladas tendem a combater a mudança apegando-se a fórmulas conhecidas (porquê é que nenhuma empresa de táxis cria aplicações rivais do Uber), mesmo quando o mundo à sua volta parece transformar-se. Não diria que esta é uma teimosia organizacional, mas sim um simples reflexo da condição humana.