Crónicas de Gestão | Hidden Dragon

O crescimento económico da China nos últimos 25 anos e a sua ascensão como fábrica do mundo é um facto quase único na história mundial, salvo talvez a rápida ascensão económica da Grã-Bretanha, no início do século XIX. Em 1990, a China representava menos de 3% da produção industrial mundial, em termos de valor. Hoje, esta percentagem é de quase 25%. De acordo com um recente artigo na revista The Economist, a China produz cerca de 80% dos aparelhos de ar condicionado do mundo, 70% dos telemóveis e 60% do calçado. A ascensão da China levou também a um aumento da quota de produção de outros países no sudoeste da Ásia, com a expansão das redes de abastecimento para outros países, que hoje fornecem os fabricantes chineses e ocidentais.

Contudo, recentemente muitos têm visto sinais de fraqueza na China, principalmente partindo da análise de uma estrutura salarial em rápida ascensão. Este efeito salarial teve um impacto naquilo que já descrevemos nestas crónicas como o fenómeno de “reshoring”, relocalização industrial para os EUA e partes da Europa e/ou uma mudança da produção da China para outros países asiáticos, América do Sul, ou mesmo partes da África. Todavia, embora o crescimento económico chinês esteja a desacelerar (o seu elevado ritmo seria sempre insustentável), o trabalho de baixo custo que está a abandonar o país vai principalmente para o sudeste Asiático, reforçando o domínio da fábrica na Ásia (e das redes de abastecimento locais).

Empresas como a Samsung, Microsoft, Toyota e outras multinacionais têm cortado a produção na China e deslocado parte dela para lugares como Mianmar e Filipinas, reforçando no entanto a cadeia de abastecimento regional com a China no centro. Apesar dos aumentos salariais, a China continua produzir a baixos custos, ao mesmo tempo que vai perseguindo negócios de maior valor agregado. Por exemplo, a participação das exportações mundiais de vestuário da China aumentou de 42,6% em 2011 para 43,1% em 2013. Por outro lado, o Banco Mundial estima que a parcela de componentes importados no total das exportações da China tem caído de um pico de 60% em meados da década de 1990 para cerca de 35% hoje, o que acontece porque a China possui clusters de fornecedores altamente eficientes. Os fabricantes chineses investem ainda de forma decidida em robótica e automação, compensando o aumento dos salários. Finalmente, a China é cada vez mais um dos pilares da procura global. Com os gastos e sofisticação dos consumidores chineses a crescer, o país tem caminhado para maiores investimentos em marketing e serviço ao cliente, gerando maiores margens. No fundo, contar com o declínio chinês e com reshoring de indústrias que geram menos emprego do que no passado é uma receita para o fracasso ocidental.