Vitor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Dissonância cognitiva é um termo da psicologia social, que descreve o conflito entre duas ideias, crenças ou opiniões incompatíveis. Como esse conflito geralmente é desconfortável, os indivíduos procuram acrescentar “elementos de consonância”, mudar uma das crenças, ou as duas, para torná-las mais compatíveis. Esta dissonância leva muitas vezes os indivíduos a negar evidências científicas e factuais que não estão de acordo com a sua conceção do mundo. No fundo, em defesa do ego, o homem é capaz de contrariar o nível básico da lógica, criando falsas memórias e distorcendo perceções. Por exemplo, encontramos pessoas que veementemente negam o aquecimento global, um facto científico, porque este não se insere na sua narrativa do mundo.
Nos mercados financeiros este conflito também se faz notar, levando a decisões menos racionais de compra. Por exemplo, um investidor decide com antecedência comprar ações de uma empresa a 7,8€, quando atualmente o preço é de 8€ por ação. Subitamente, o preço da ação sobe. A crença do investidor que a ação seria uma boa compra a 7,8€ parece ser contrariada pelo comportamento atual da mesma. Desta forma, o investidor decide comprá-la a 8,5€. Embora esta possa não ser uma boa uma decisão de investimento, o investidor irá racionalizar que o é, procurando eliminar a dissonância cognitiva.
Este efeito é ainda mais visível em tópicos de paixões exacerbadas, como o futebol, a política ou a religião. Por exemplo, para um evangélico radical Norte-americano, o seu extremismo e crença num estado semirreligioso é puramente justificada, mas a existência de estados islâmicos já é energicamente condenada. Para muitos militantes de uma esquerda mais radical, apesar de todas as evidências históricas, o mercado e o comércio internacional são fontes de todos os males, enquanto para alguém de direita extremada, a intervenção do Estado na economia é sempre nefasta (apesar da evidência da sua importância na regulação de externalidades e na promoção da equidade). Na gestão, este tipo de dissonância leva os gestores a ignorar informações que contrariem a sua perceção do mundo e do mercado, centrando-se na informação que suporta decisões pré-estabelecidas (gerando os chamados viés de confirmação). No fundo, as nossas conceções do mundo chocam muitas vezes com a pura realidade dos factos e juntamo-nos em “equipas” que travam fúteis batalhas, quando na verdade deveríamos usar a razão e a ciência para tomar decisões mais acertadas.