Na semana passada um relatório do FMI passou despercebido nos media portugueses. Segundo este relatório, as empresas de combustíveis fósseis beneficiam de subsídios globais de 5,3 biliões de dólares anualmente ou, o equivalente a 10 milhões de dólares por minuto, todo ano. O próprio FMI considerou esta revelação “chocante” e diz que o número é uma estimativa “extremamente robusta” do verdadeiro custo dos combustíveis fósseis.
Como termo de comparação, este valor é maior do que a despesa total com a saúde de todos os Governos do mundo em 2015. Uma grande parte desta soma resulta de externalidades negativas dos poluidores que não pagam os custos aos Governos pela queima de carvão, petróleo e gás. Estes incluem os danos causados às populações locais por poluição do ar, bem como os danos impulsionados pelas alterações climáticas. Esta análise redefine a ideia de que os combustíveis fósseis são baratos, mostrando que na verdade os custos reais são extramente altos (há quem considere que esta estimativa peca muito por defeito).
Segundo o próprio FMI, acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis representaria um corte das emissões globais de carbono em 20% e uma redução do número de mortes prematuras de poluição do ar em 50% – cerca de 1,6 milhões de vidas por ano. Os recursos libertados pelo fim dos subsídios aos combustíveis fósseis poderiam ser usados para estimular o crescimento económico e a redução da pobreza através de um maior investimento em infraestruturas, saúde e educação (e uma descida de impostos). Outra consequência seria a de que a necessidade de subsídios para a energia renovável (relativamente pequena, cerca de 120 mil milhões de dólares por ano) também desapareceria, porque os preços dos combustíveis fósseis refletiriam o custo total dos seus impactos (tornando-os muitas vezes a alternativa mais cara). Neste momento existem muitas alternativas válidas (como a energia eólica e solar – cujo payback energético é de 1 ano e meio), que poderão usufruir do desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia (como a Powerwall da Tesla) ou o recurso a energia nuclear (com muitos detratores, mas quando feita corretamente com um potencial de salvar o mundo do aquecimento global e da dependência do carvão). Talvez por lobby ou talvez por falta de visão, a situação não se tem alterado, mas esperamos que finalmente os Governos a nível global percebam que o planeta que temos não é nosso, mas sim emprestado pelas gerações futuras.