Para compreender a situação da Grécia é necessário fugir a crónicas politicamente motivadas e centrarmo-nos em Economia. Antes de mais, a questão da austeridade. Um voto “sim” da Grécia teria (talvez) condenado o país a mais anos de sofrimento no âmbito de políticas que aritmeticamente não funcionam. Dada a dimensão da dívida da Grécia, a austeridade encolhe a economia mais rápido do que se reduz a dívida (a análise dos multiplicadores do FMI indica isso – logo a discussão central deveria incidir no aumento da competitividade grega).
A vitória esmagadora do “não” oferece pelo menos uma hipótese para uma fuga a esta armadilha. Em seguida, devemos ponderar a questão da construção da moeda única. Para Estados como Portugal e, principalmente, a Grécia, há um problema inultrapassável. Numa economia aberta sem barreiras de qualquer tipo (tarifárias ou cambiais), com vizinhos mais competitivos, capital e trabalho tendem a seguir o maior retorno (que estará fora do país). Por outro lado, uma boa parte dos bens de equipamento e de consumo são produzidos fora do país (por exemplo, na Alemanha), sendo essas importações à partida mais competitivas do que os produtos nacionais, gerando vastos fluxos de dinheiro para fora do país (as exportações da Alemanha para a Grécia cresceram 150% face a um crescimento de 10% da Grécia para a Alemanha, desde a introdução do Euro). Em condições normais, este défice levaria a uma desvalorização da moeda (tornando as importações mais caras, as exportações mais baratas, o investimento no país mais atrativo e a dívida menor – porque estaria valorizada em moeda nacional, que agora valeria menos). Na ausência de moeda própria, a Grécia está presa num ciclo, uma vez que não consegue cobrar impostos suficientes (mesmo que eliminasse toda a fuga fiscal), o que leva o país (não só o Estado, mas também os privados) a aumentar a dívida, não evitando ainda a fuga de investimento, que agrava este processo.
A única forma de travar este tipo de ciclo é conseguir uma verdadeira união económica e fiscal, com mecanismos de transferência (por exemplo, nos EUA, os Estados ricos acabam por transferir uma grande quantidade de riqueza de volta para os Estados pobres – apesar do Alabama comprar bens e serviços da Califórnia, o Governo Federal envia dinheiro dos impostos de volta para o Alabama sob a forma de programas, subsídios e serviços – tudo coletado a pessoas e empresas em outros Estados). Mas estes factos óbvios continuam ausentes da discussão. Seguem-se agora os próximos capítulos.