Crónicas de Gestão | O FIM DO CAPITALISMO

Dr. Vitor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis Business School

Este não é um texto de extrema-esquerda a vilipendiar a maldição dos mercados. Trata-se apenas de uma reflexão inspirada pelas crónicas sobre o fim do emprego e pelo livro Pós-capitalismo de Paul Mason. A questão não passa pela crítica ao modelo capitalista puro, mas sim à sua decadência num contexto social e tecnológico diferente daquele que caraterizou a sua ascensão. Um modelo económico não tem de sobreviver para sempre e isso é evidente pela forma como o feudalismo deu origem ao mercantilismo e este deu origem ao capitalismo (pelo menos na Europa Ocidental, já que na Europa de Leste, Japão e China, os sistemas semifeudais deram origem a modelos com caraterísticas fascistas ou comunistas).

Um dos problemas do capitalismo no contexto moderno está ligado a uma economia de abundância (de informação e de conhecimento), onde os ativos essenciais são intangíveis e têm caraterísticas de bens-públicos. O conhecimento e a informação, ao contrário dos outros recursos, não se gastam quando utilizados e têm mesmo tendência para aumentar de valor. Por outro lado, a sua utilização é não rival (todos podemos usar o mesmo conhecimento simultaneamente). Neste contexto, o que custa a produzir é a primeira unidade de algo (um medicamento, um filme, um software) e as restantes têm custos marginais de produção próximos de zero. Se a este contexto adicionarmos que os bens físicos estão cada vez mais próximos desta realidade (custos marginais de produção extremamente baixos) e que são necessárias cada vez menos pessoas para produzir um bem (em virtude da automação de tarefas físicas e intelectuais, como já vimos nestas crónicas), o capitalismo gera poucas respostas para a distorção da relação entre capital e trabalho e da necessidade de haver salários para consumir bens, alimentando o ciclo virtuoso dos últimos 80 anos. Por outro lado, o sistema capitalista tende a equilibrar-se devido ao comércio e fluxos monetários internacionais, sendo que, desta forma, o declínio europeu é apenas um sintoma da aproximação das classes médias mundiais em termos de poder de compra e benefícios sociais (chinesa, indiana, europeia, americana – umas em ascensão e outras em declínio).

Para já os mercados continuam a ter uma resposta a algumas destas questões, mas os sistemas políticos e sociais dos próximos 40 anos têm de ser capazes de antecipar uma mudança profunda, sob risco sofrermos um ajustamento doloroso.