Vítor Ferreira,
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Nestas páginas já discutimos várias vezes o papel da inovação tecnológica na reconfiguração das empresas, das economias e da própria sociedade. Mas a verdade é que não é necessário recorrer a exercícios de futurismo para detetar no médio-prazo reconfigurações geradas pela tecnologia. Todos sabemos que um técnico com uma folha de Excel faz hoje o trabalho que 20 pessoas fariam há 40 anos e que, usando sistemas de informação intensivamente, as pessoas se dedicam a tarefas menos mecânicas e mais comerciais e intelectuais (veja-se o caso das agências bancárias, que hoje operam com 3-4 pessoas e que no passado necessitavam de mais de 20). Um dos exemplos que também já mencionámos é o da automação no setor de transportes. Os carros autónomos estão a uma distância de 5-10 anos, o que poderá transformar em termos de emprego todo o setor (os incentivos económicos para as empresas de transporte são enormes – um “robot” não tem acidentes, não precisa de descansar e não tem sindicato – note-se que em explorações agrícolas e mineiras esta autonomia é já uma realidade).
Desta forma, a manifestação dos taxistas contra Uber não é mais do que um anúncio do fim da profissão. O problema central nem passa pela falta de competitividade do modelo de táxis face à comodidade da Uber (note-se que em certos países da América Latina a Uber ganhou menos popularidade, porque as próprias empresas de táxi criaram aplicações semelhantes, que permitem chamar, pagar e avaliar o serviço de táxi, analisando o valor das rotas – no fundo criando valor em vez de fingir que o mundo permanece igual), mas sim pela intenção da Uber de no espaço de 5 anos começar a operar frotas de carros autónomos que irão dispensar os próprios condutores. Esta é uma realidade que nenhum taxista quer antecipar (e que a ocorrer encontrará sobretudo tentativas de bloqueio institucional), mas é comum a outras profissões como a dos jornalistas (não por causa dos blogs mas por causa dos bots que escrevem já hoje uma quantidade de notícias) ou até mesmo, infelizmente para este cronista, a de professor (pelo menos, no sentido clássico).
No fundo, a morte anunciada de uma profissão não é nada de novo, mas no que podemos fazer para simultaneamente evitar os choques e melhorar a produtividade da sociedade reside o desafio.