Vítor Ferreira,
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Existe uma inevitabilidade dogmática nos círculos de política económica que parece ter um eco positivo na sociedade portuguesa, fazendo jus ao adágio “pobres mas honrados”, ou, “pobre mas não devo nada a ninguém”. Esta orientação teve um profundo eco na admiração pública da prossecução do atual Governo pela descida da dívida pública que, eventualmente, descambou num efeito clássico de multiplicador negativo, que teve um impacto pernicioso no PIB português. Esta linha de pensamento utiliza a palavra Keynesiano como uma espécie de insulto. Os factos que vou enunciar, e que Paul Krugman veio realçar na passada semana, não são sequer disputados nas escolas económicas (de esquerda ou direita) e, no entanto, muitos escolhem pensar/afirmar que não são verdadeiros.
1. As Economias por vezes produzem muito menos do que poderiam e empregam menos trabalhadores do que deveriam, porque simplesmente não existem gastos suficientes (estão abaixo do PIB potencial). Esses episódios podem acontecer por uma variedade de razões; a questão é como responder.
2. Normalmente, existem forças que levam a economia de volta para o pleno emprego, mas elas funcionam lentamente; uma política de não-intervenção em economias deprimidas significa aceitar um período longo de dor.
3. Muitas vezes é possível reduzir drasticamente esse período de recuperação com política monetária (“imprimindo dinheiro”), descendo as taxas de juro.
4. Quando a política monetária perde a sua eficácia, especialmente quando as taxas estão perto de zero (como é o caso da Europa e de Portugal, onde não há politica monetária) os gastos temporários podem fornecer um impulso útil e, inversamente, a austeridade fiscal numa economia deprimida impõe grandes perdas económicas.
Há quem acredite que qualquer recuperação económica, não importa quão lenta, prova que estas aceções estão erradas (o ponto 2 diz-nos que não). Há quem diga também que os keynesianos pretendem imprimir dinheiro para resolver todos os problemas, mas de acordo com o supracitado, a política monetária apenas resolve um problema específico, ou seja, uma economia bem abaixo da capacidade. Finalmente, há que refira que os keynesianos escolhem sempre deficits, mas a verdade é que a escolha de estímulos orçamentais é bastante restritiva, exigindo tanto uma economia deprimida como barreiras à política monetária. Acontece que todas estas condições estavam reunidas em Portugal e, embora a inserção na moeda única e intervenção do FMI provavelmente não nos permitisse uma política muito diferente, a verdade é que políticas inadequadas podem ter consequências negativas (como se vê hoje na Finlândia).