Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Os resultados das últimas eleições trouxeram consigo um país mais confuso, menos estável, mas com mais oportunidades de correção ao nível de algumas políticas. A vitória da coligação indica que os portugueses validaram as suas políticas reconhecendo que o país necessitava de algumas das mudanças conduzidas nos últimos 4 anos, sobretudo a questão de um Estado demasiado pesado para a riqueza que criamos (estará o problema no tamanho do Estado ou na falta de riqueza?
Como já vimos nestas crónicas, estamos longe de ser o país da Europa com mais funcionários públicos, professores, etc.). Também se sancionou positivamente o brutal aumento de impostos que contraria até a génese ideológica do governo (e, especificamente, a matriz socioeconómica da nossa região). Contudo, apesar de uma desastrosa prestação “estatística” (para comparação, veja-se a recuperação exemplar da Irlanda, caso que esteve estranhamente ausente da campanha eleitoral), este governo flexibilizou a contratação, esboçou uma reforma fiscal, cortou algumas partes pesadas do Estado, simplificou processos e criou novos sistemas de incentivos (o que fugindo à lógica liberal – o Estado não deve intervir – é um sinal positivo para empresas que competem com outras que os Estados também ajudam). Estes sinais positivos ao mundo empresarial tiverem eco na nossa região (mesmo que o Governo não tivesse agido sobre mercados protegidos e outros custos de contexto que afetam as nossas empresas).
Agora, sem maioria, o Governo terá de fazer algo semelhante ao que tem acontecido, por exemplo, na Alemanha, onde sem maioria absoluta a governação tem corrido de forma exemplar. Na Alemanha procurou-se estabelecer objetivos para diversas áreas (que pudessem ser negociados e afinados) e criar equipas setoriais para negociar medidas nas diversas áreas. Por exemplo, em Portugal as políticas de Educação e Ciência – bem como a de Inovação (mais ligada à economia) foram das mais desastrosas destes 4 anos e poderão, agora, melhorar significativamente com a criação de um bloco central. Este tipo de lógica, caso o oportunismo político dê lugar a uma visão de futuro, poderá ser interessante para o nosso país. O meu otimismo espera que uma convivência mais pacífica possa melhorar as lacunas económicas do país, mas o meu realismo sussurra-me que essa poderá constituir uma vã esperança.