O recente escândalo da VW vem ao encontro de um tema que já discutimos nestas páginas: a questão da responsabilidade social nas empresas e a sua verdadeira face. Pequenas e grandes empresas apostam no mecenato, na sua função social e preenchem relatórios de responsabilidade social corporativa, demonstrando o seu impacto positivo no mundo. Todavia, no fim da linha, a margem e a vontade de remunerar os acionistas podem suplantar todas as outras questões.
O relatório de sustentabilidade de 2014 do grupo VW refere: “sustentabilidade significa que conduzimos as nossas atividades de negócio de forma responsável com pensamento de longo-prazo, e não procuramos o sucesso de curto prazo à custa de outros. A nossa intenção é que todos podem ganhar com o nosso crescimento – consumidores e investidores, sociedade e, é claro, empregados. Desta forma, bons empregos e bom tratamento dos recursos e do ambiente formam a base para gerar valores duradouros”. Caro leitor, face aos mais recentes dados, esta é uma declaração no mínimo irónica – para poder vender mais uns milhões de carros, o grupo (e engane-se quem pense que é obra de um engenheiro perdido) sacrificou o ambiente, enganou o consumidor e colocou a sociedade em risco (dado o potencial cancerígeno do nitróxido de carbono). Os gestores e o Estado poderão ter moral e responsabilidade, mas as empresas, na ausência de regras, procuram maximizar o lucro (e a sua preocupação pela sociedade nasce mais na necessidade de preservar cash-flows futuros) – não nos podemos esquecer que milhões de carros representam uma margem enorme.
Este não é um caso único e provavelmente custará ao grupo uma multa astronómica de cerca de 20 mil milhões de dólares. Todavia, os ativos do grupo representam 415 mil milhões de dólares e o seu volume de negócios foi de 202 mil milhões em 2014, ou seja, mesmo sendo obrigado a vender algumas marcas, o grupo sobreviverá e os culpados a nível individual continuarão, como em outros escândalos corporativos, impunes. No fundo, para grandes empresas percebemos que, por vezes, enganar o consumidor e o Estado compensa, o que nos diz que o campo da competição não está de todo nivelado. Resta-nos que a UE tenha aprendido com os erros e assuma o papel de regulador de forma mais conscienciosa, porque quanto ao futuro da humanidade, por vezes, não podemos confiar que não seja preterido pelo lucro.