Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Num trabalho jornalístico seminal, a revista The Atlantic apresenta-nos o percurso de Al Gore, que de ex-Vice Presidente passou a investidor milionário, através da sua participação num fundo de investimento “sustentável” Generation Investment Management. Este fundo não é apenas um fundo ético (já existem alguns), mas procura ser uma nova versão do capitalismo, visando mudar os incentivos de operações financeiras, reduzindo danos económicos ambientais e sociais de longo prazo. Em termos práticos, na última década, este fundo bateu a maioria da competição darwiniana do mercado financeiro internacional (guiada por orientação tradicional de lucro “cego”), através da aplicação de um modelo ambientalmente consciente de investimento “sustentável”.
Como já vimos nestas crónicas, as empresas não necessitam de ter uma moralidade ou uma consciência, mas a verdade é que muitas vezes essa é a opção que mais lucro pode gerar no longo-prazo. O ponto de partida deste fundo é que o capitalismo é o melhor de todos os sistemas e provou isso ao garantir o desenvolvimento económico e tecnológico sem precedentes dos últimos 300 anos. Todavia, apesar do Mercado ser o meio mais eficaz de alocar recursos ele não é perfeito – gera bolhas, não lida bem com externalidades, tem problemas de sinalização e não incorpora todos os custos futuros nas decisões atuais. O conceito de capitalismo sustentável inclui uma perspetiva de longo prazo, uma procura por valor subjacente e uma tentativa de resistir à distração de coisas efémeras.
Alguns exemplos serão perceber que a Coca-Cola não é um investimento apetecível, porque uma parte dos seus produtos está na raiz da obesidade ou, como nos diz um relatório desta empresa, as reservas de carvão e de petróleo são “ativos” cujo valor de mercado teórico nunca irá ser realizado, porque as restrições ambientais, legais e tecnológicas farão inevitavelmente que este seja vendido e queimado. No fundo, como afirma um recente estudo de Oxford, se gestores e investidores incorporarem considerações de sustentabilidade nos processos de tomada de decisão têm maiores retornos no longo prazo, mas a verdade é que para alguns o longo-prazo não “importa”, já que na maioria das grandes empresas, os CEOs não permanecem em funções tempo suficiente para ver o resultado das suas ações de investimento, o que enviesa o seu comportamento para decisões de curto-prazo.