Crónicas de Gestão | Uma economia sem custos de transacção

Um fenómeno interessante dos últimos anos está ligado ao boom das plataformas que promovem o encontro entre provedores de serviços e a procura, desestruturando a empresa clássica. Este fenómeno é patente em plataformas como a Uber ou a Airbnb onde pessoas comuns podem oferecer os seus serviços como condutores de táxis ou fornecedores de hotelaria. Outras plataformas semelhantes existem em Portugal, como a Zaask, onde freelancers oferecem os seus serviços, mais uma vez desmaterializando negócios e removendo a necessidade de uma complexa estrutura empresarial.

Estes fenómenos vão ao encontro de uma teoria fundamental na economia, desenvolvida por dois prémios nobel da economia – Ronald Coase e Williamson. Estes autores focaram a importância dos custos de transação, que nada mais são do que o dispêndio de recursos económicos para planejar, adaptar e monitorar as interações entre os agentes (custos de procura de preços, de negociação, de procura de fornecedores, etc.). Para estes autores a empresa moderna emerge como uma forma de minimizar estes custos de transação (por exemplo, eu não preciso de negociar todas as tarefas dentro da minha empresa, porque os meus trabalhadores fazem parte dela). O que é interessante na economia moderna é que plataformas online, o advento do processamento massivo e barato de dados, permitem a minimização dos custos de transação sem recorrer a estruturas internas. A concertação de preços pode ser feita automaticamente, a monitorização é feita automaticamente e através de “reviews” gerando índices de reputação e a negociação é também ela semiautomática. Estas estruturas são o reflexo da reinvenção da empresa moderna associado à era da informação e, aparentemente, estão a alastrar-se a outras áreas (a Uber teve 1 milhão de condutores, e um volume de negócio de 10 mil milhões de dólares, mas supostamente terá apenas entre 1000 a 2000 colaboradores diretos).

Se por um lado estes movimentos tornam a economia mais flexível, por outro estes parecem ser os únicos geradores de emprego numa economia cada vez automatizada e algoritmizada. Veremos como antigas empresas e novos governos lidarão com uma economia “sem custos de transação”.