A coopetição pode ser definida como uma situação em que as empresas simultaneamente cooperam e competem, com o objetivo de criarem e capturarem valor. A coopetição permite por um lado potenciar recursos, partilhar conhecimento, alavancando as capacidades das empresas, ao mesmo tempo permanecendo competitivas na luta do melhor preço, quota de mercado e influenciar os mercados com inovações. A coopetição implica a coexistência simultânea de cooperação e competição e não apenas de cooperação, como as alianças. Usualmente as empresas tendem a recorrer a este tipo de “alinhamento estratégico” em situações em que os recursos são escassos e/ou há necessidade de iniciar complexos processos de desenvolvimento de produto e ainda quando há a necessidade de entrar em novos e intrincados mercados.
Muitas empresas não dispõem de recursos tecnológicos, nem conhecimentos para os exaustivos processos de I&D, pelo que a coopetição é uma forma de conseguirem ter acesso a novos conhecimentos quer a nível tecnológico, quer a nível da produção e do marketing. Empresas como a Sony ou a Panasonic têm desenvolvido consórcios tecnológicos que deram origem a novos formatos tecnológicos (como o CD, o DVD ou o Blu Ray). As empresas dentro destes consórcios partilham know-how, patentes, mas também risco, competindo posteriormente no mercado de bens finais com diferentes marcas e produtos. O mesmo acontece com vários fabricantes automóveis (como a Ford, a PSA, etc.) que desenvolvem em conjunto novos motores, mas competem no mercado final com produtos marcadamente diferentes.
O lado da coopetição ligado à I&D é talvez o mais conhecido, porque a cooperação a montante permite o “pool” de capacidades e experiência (principalmente em tecnologias maduras que exigem elevadíssimos investimentos) associado a uma “saudável” competição no mercado final. Mas a coopetição pode ser vista como uma forma das PMEs conseguirem competir com grandes empresas, facilitando o acesso a um maior número de mercados, a novos conhecimentos e, principalmente, permitindo desenhar estratégias fortes e coerentes. Um antigo exemplo de coopetição em Portugal estava patente na Autoeuropa, onde eram construídas duas marcas de veículos, respeitantes às marcas Ford e Volkswagen. Existem outras empresas nacionais que praticam a coopetição como a Lactogal e a SIBS (sociedade que gere a rede de multibanco). A Lactogal é uma empresa do ramo agroalimentar que reúne a AGROS, a Lacticoop e a Proleite/Mimosa S.A. (empresas que continuam a competir). No nosso país, existe uma miríade de situações onde mais coopetição seria desejável. Na indústria do vinho, a maioria dos produtores não tem capacidade de servir uma grande ou média cadeia de distribuição num país como os EUA, França ou Brasil. O pool de recursos e a criação de marcas partilhadas (coexistindo com outras) poderia ser um caminho alternativo. Algumas formas de coopetição aparecem já nas estratégias de Comunicação em novos países, mas estas são ainda insuficientes. Em sectores como o da injeção ou dos moldes, desde sempre existiram fenómenos de coopetição, com empresas a subcontratar outras ou partilhar recursos para satisfazerem encomendas específicas (enquanto continuam a competir por outros clientes). Pelo que neste sector o problema poderá até mesmo ser de cooperação pura (ou fusão), porque as empresas/grupos médios têm dimensões insuficientes quando inseridos em cadeias de valor internacionais.
No fundo, este tipo de estratégia não é particularmente comum em Portugal, por razões culturais e de estilos de gestão, mesmo que esta lógica seja incentivada por determinados programas no Portugal 2020. Esperemos que o futuro seja um de maior cooperação e maior valor acrescentado no nosso país.
Artigo publicado na revista 250 Maiores Empresas do Distrito de Leiria, publicado no Jornal de Leiria e 17/11/2016 e no Diário de Notícias a 19/11/2016.