Os seres humanos são maus a tomar decisões. Nestas crónicas já discutimos os problemas da dissonância cognitiva e de outros vieses de raciocínio que limitam a capacidade dos agentes económicos na tomada de decisão racional (abordamos tanto o tema da dissonância cognitiva, como a tendência de tomar decisões baseadas em informação passada – algo que herdamos geneticamente, na nossa capacidade de prever padrões, mas que pode estar profundamente errado quando o futuro é diferente do que conhecemos). Estes vieses estendem-se à nossa falta de capacidade de pensar a longo prazo e a forma como descontamos acontecimentos futuros face ao presente. Esta capacidade de pensar no longo prazo pode estar assimetricamente distribuída na população, com algumas pessoas a serem capazes de protelar a satisfação de curto prazo face a um retorno superior no futuro. Alguns economistas argumentam que cursos de ensino superior, mesmo quando não tecnicamente ligados à profissão, são uma sinalização ao empregador de que os indivíduos estiveram dispostos a “sofrer” a curto prazo, resultando em ganhos futuros de competência (o que se reproduzirá positivamente na profissão). Outros economistas comportamentais argumentam ainda que a pobreza gera ciclos de subsistência que impedem o pensamento de longo prazo, já que todos os recursos e energia estão apontados para a sobrevivência, impedindo as pessoas de tomar decisões que poderiam ter um impacto positivo no seu bem estar futuro (se estou concentrado em arranjar a próxima refeição para os meus filhos é difícil pensar estrategicamente que deveria juntar alguns euros para estudar e adquirir competências que me permitissem sair deste ciclo – aliás, a falta de tempo e calorias é prejudicial nos resultados letivos). Esta é uma lição que aqueles que dizem que a pobreza é um demérito das más decisões não são capazes de compreender, porque estes possuem o luxo do tempo. Por outro lado, é uma decisão que pode ser estendida a empresas que se encontram com falta de recursos e onde o curto-prazo bloqueia o pensamento estratégico. No meio destes vieses encontraremos certamente justificações para a recente eleição de Donald Trump, que claramente não defenderá valores de direita (o que vemos é uma intervenção do Estado e protecionismo, algo contrário à logica liberal), de centro ou muito menos de esquerda. Mas só o longo prazo nos trará respostas.
Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 15 de dezembro de 2016.