Software e robots têm permitido um crescimento ímpar da produtividade e diminuído o custo de produção da maioria dos produtos que fazem parte do nosso dia-a-dia, do pão aos transportes, passando pelos automóveis, eletrodomésticos, rações, produtos agrícolas, roupas,etc. A vida de uma vasta percentagem de pessoas à escala global tornou-se mais fácil graças a tecnologias de fabrico, softwares de desenvolvimento de produto, softwares que permitem a otimização da produção agrícola ou a otimização de redes de distribuição e transporte, que permitem a procura e comparação de preços automática, de robots que medem, cortam e melhoram continuamente o seu desempenho através de “machine learning” ou até de aplicações que permitem diminuir custos de transação quando marcamos um quarto ou chamamos um táxi. O problema é que o desenvolvimento tecnológico tem cada vez mais substituído empregos de baixa e média qualificação, enquanto complementa o trabalho mais qualificado (causando um aumento da desigualdade na maioria das economias e explicando, em parte, o crescimento dos fenómenos neonacionalistas). Segundo a PwC, cerca de 40% a 50% dos empregos podem estar em alto risco de automação até ao início da década de 2030. Segundo outro estudo da HBR, 1,2 mil milhões de empregos e 13,2 biliões de euros em salários estão associados a atividades que podem ser automatizadas com a tecnologia atual. Este potencial de automação difere entre os países, variando de 40% a 55%. Todavia, se esta narrativa tem um lado negativo, existe também um lado menos comentado que poderá ser essencial para o crescimento global. A diminuição das taxas de natalidade e a tendência para o envelhecimento global, da China à Alemanha, passando por Portugal, significam que o pico de emprego ocorrerá na maioria dos países dentro de 50 anos. O declínio esperado na proporção da população ativa face à população total, originará uma quebra de crescimento económico que a automação poderá potencialmente preencher. Estima-se que a automação possa aumentar o crescimento do PIB global de 0,8% para 1,4% ao ano, assumindo que as pessoas substituídas pela automação continuem a trabalhar (talvez com a diminuição das horas de trabalho). Resta saber que medidas tomar para diminuir desigualdades e conseguir assegurar uma transição menos catastrófica.
Crónica publicada na edição de 4 de maio de 2017 do Jornal de Leiria