A concorrência | Crónicas de Gestão

Qualquer gestor e empresário dirá que a concorrência é salutar. Ouço muitas vezes a expressão “a concorrência faz-nos ser melhores, servir melhor os nossos clientes”. Por outro lado, de experiência académica e prática, também sei que é a concorrência que nos tira o sono, que às vezes nos desespera e que nos faz sonhar com um ocasional monopólio. Estes são quase sempre maus porque permitem às empresas cobrar preços altos e oferecer maus produtos, prejudicando os consumidores (quase sempre porque existem situações em que o mercado apenas suporta uma empresa a operar de forma eficiente, os chamados “monopólios naturais”). Já Salazar temia tanto o monopólio como a concorrência, dizendo que “(..)Por maiores benefícios que se reconheçam na concorrência, não há dúvida de que ela não constitui força económica permanente, pois tende para a sua autodestruição”. Esse temor era tanto que o levou a criar a lei do condicionamento industrial, que impedia a concorrência e favorecia o corporativismo. Mas, como em muitas outras coisas, o nosso antigo ditador estava errado, já que é a concorrência que leva as empresas a melhorar continuamente, criar novos produtos, inovar, melhorar eficiência e é talvez por ela que esse smartphone que tem no bolso é mais poderoso que um supercomputador de há 30 anos e certamente não custa centenas de milhões de dólares. O que deve fazer o gestor moderno? Identificar concorrentes (diretos e indiretos), mapear as suas posições de mercado, realizar benchmarking (aferição das melhores práticas) em diversas áreas, das mais óbvias (como o preço, prazo de entrega, qualidade) às menos naturais (qual a capacidade de liderança dos meus concorrentes? Que investimentos em I&D, quais os seus recursos humanos, níveis de satisfação e competências? Qual a sua produtividade?). Apenas através de um mapeamento efetivo de indicadores quantitativos é possível identificar o que faço melhor ou pior do que a concorrência. Deste modo, a tão banalizada “análise SWOT” pode tornar-se numa ferramenta mais objetiva, pois o gestor percebe de forma concreta que um ponto forte é algo em que está quantitativamente melhor do que a média e um ponto fraco será o inverso. Mas existirá efetivamente concorrência na maioria dos mercados? Existem muitas práticas e acontecimentos invisíveis que tornam complexa a resposta a esta questão, mas deixo o leitor com a resposta habitual em gestão: depende.

Crónica publicada no Jornal de Leiria