Crónicas de Gestão | Alibaba e os 40 Biliões

A semana passada ficou marcada pela oferta pública inicial (a maior da história) por parte da empresa Chinesa Alibaba, que terá permitido a angariação de mais de 20 mil milhões de dólares, para uma valorização global da empresa entre 168 e 231 mil milhões de dólares (um valor bem superior ao do PIB português).

Menos conhecida do público em geral, esta empresa opera no mercado empresarial (vulgo, “Business to Business”), funcionando como um mercado/ponto de encontro entre exportadores (maioritariamente chineses) e importadores de todo o globo (para além de operar também um sistema de pagamentos online, um site de vendas ao consumidor semelhante ao Ebay, bem como serviços de “computação partilhada”). A empresa e o seu portal datam da primeira vaga das “empresas .com ” (1998), tendo construído uma sólida reputação no mercado e sendo, ao contrário de muitos outros exemplos da área, rentável desde 2001, gerando receitas de 7,5 mil milhões de dólares. O seu curioso nome resulta de um pequeno exercício de marketing do seu fundador, que procurava um nome reconhecido globalmente e foneticamente abrangente.

Este negócio representa a epítome de uma vaga de aquisições e ofertas públicas na área tecnológica que apontam para uma nova onda de empresas com modelos de negócios inovadores mas de crescimento sólido, ou uma nova bolha de comportamento exuberante de mercado, repetindo pela enésima vez a loucura das tulipas, que em 1637, na Holanda, levou cada bolbo a custar o equivalente a 3 anos de salário de um artesão qualificado (nesta linha, há quem diga que a valorização da Apple hoje significa que de 8 em 8 anos todas pessoas do planeta comprariam um Iphone).

Mas a história, embora tenha tendência para a reiteração, nunca se repete de forma exatamente igual (o que nos torna cegos, mesmo quando a conhecemos) e talvez esta seja uma dupla realidade, feita de modelos de negócio apontados a uma nova geração mais interessada em comunicar do que em “possuir” (a valorização de Instagram e Whatsapp serão apanágio disto), mas também de uma abundância de capital, resultante de lucros record em alguns setores e de crédito barato para algumas instituições financeiras.

Curioso, ou não, é que esta história singular sobre o sucesso da maior empresa de comércioonline venha da China, ainda que o tesouro esteja parcialmente – 22% – na caverna de um gigante esquecido, a empresa Yahoo.