Crónicas de Gestão | Cavalos certos

Um dos elementos essenciais na promoção ao empreendedorismo é a existência de um saudável sistema financeiro que possa, através de várias ferramentas, alavancar a criação de novos projetos. Estas ferramentas poderão assumir a forma de capital alheio (empréstimos com diversos tipos de condições diferenciadas e variadas garantias – o que poderá ir do tradicional empréstimo contra aval pessoal, até ao empréstimo de pequeno montante e período de carência, que hoje é, muitas vezes, designado como microcrédito). Existe também outro tipo de sociedades que fornecem garantias a empreendedores ou ainda empresas/investidores que participam no capital destes projetos (sociedades de capital de risco – SCR – e “investidores anjo” ou Business Angels). Alguns destes sistemas de financiamento conjugam-se com apoios estatais, (quer sob a forma de fundos mistos – privados e públicos – quer sob a forma de investimento ou garantia apenas pública).

O Global Entrepreneurship Monitor (2012), um estudo global conduzido por várias universidades, que mede o estado da situação empreendedora em cada país, considera que em Portugal o sistema financeiro e o apoio público são insuficientes. Ora, isto parece paradoxal, porque à nossa volta somos bombardeados com informação sobre concursos, anúncios sobre capital de risco e apoios governamentais. Na verdade, o problema do sistema financeiro é que risco é usualmente uma palavra ausente (a não ser em parcerias bizarras, como as que encontrámos no BES), porque todos preferem apostar em cavalos certos/únicos (veja-se a comparação entre o termo anglo-saxónio – “venture capital”, com realce no empreendimento, e o termo português, com tónica no risco – “capital de risco”).

Usualmente diz-se que uma SCR deve apostar em 10 projetos e apenas 1 terá sucesso (mas esse 1 será realmente um projeto de crescimento rápido e retorno elevado). Em Portugal há uma tendência para sobrevalorizar o falhanço, logo é impensável ter-se uma taxa de sucesso de 10% (os responsáveis pelos falhanços são tendencialmente punidos, mesmo quando este é uma premissa subjacente). Deste modo, apenas as empresas com perspetivas fantásticas são financiadas (com protótipos, patentes, colaborações já contratadas, testes de mercado ou vendas, etc.).

De fora fica uma miríade de projetos com potencial que não são apoiados por privados, nem pelo sistema público. E toda a fachada do nosso “sistema empreendedor” cai por terra, quando estão todos à procura de apostar no único corredor na pista.