O nosso país está repleto de decisões adiadas, de uma glória perdida que nunca chegou a ser de facto conquistada. Perdemos o “mais vasto Império que o mundo viu” no século XVI e perdemos outros ensaios de grandeza com o fim da ligação ao Brasil e, mais tarde, às colónias (impérios falhados, porque a implementação de uma gestão racional dos fluxos de comércio nunca foi instituída).
No final do século XX, Portugal iniciou nova tentativa de conquistar o mundo (mais económica do que política). Este era o tempo dos Tigres Ibéricos, do crescimento acelerado e do “bom exemplo” Europeu. Vários grupos económicos iniciaram processos de expansão internacional, com a PT, a Sonae e outras empresas a liderar esta vaga de internacionalização. Em 1998, a PT entrou no mercado brasileiro ao adquirir a Telesp Celular e, em 2003, formou com a Telefónica uma joint venture, criando a maior operadora de rede móvel do hemisfério sul. Este é um momento decisivo em que a PT tem a hipótese de se expandir em outros mercados (Indonésia, África do Sul, etc.), mas a vontade dos acionistas (tantas vezes em Portugal mais preocupados com dividendos, do que com crescimento, como o demonstra a política de distribuição de lucros de muitas empresas) e o novo contexto levam a empresa a desinvestir.
Após meados dos anos 2000, alguns dos processos de internacionalização no Brasil começam a fracassar (dada a alteração do contexto político, mas também as dificuldades num mercado que é muito mais difícil e dissemelhante do que o esperado). Este período marca o início do fim dos “campeões nacionais”. Portugal perde a maioria dos centros de poder e uma boa parte da propriedade das empresas de maior dimensão começa a ser transferida para mãos maioritariamente chinesas, angolanas e brasileiras. Esta é apenas uma pequena “vingança” chinesa (China que foi até ao século XVIII a maior economia do mundo), que usou as portas da Ásia (Hong Kong e Macau, geridas pelos antigos impérios inglês e português) para metodicamente investir de forma global, focando-se na implementação de uma estratégia há muito definida (foco esse que nunca existiu em Portugal).
Em qualquer país, os chamados “campeões nacionais” desempenham um papel essencial como motor da economia, sendo que na sua ausência o efeito de arrastamento de outras empresas menores perde-se. Mas no meio desta ruína nasce, uma vez mais, a esperança, porque uma miríade de PMEs inovadoras tem liderado uma nova vaga de internacionalização e, algumas delas, serão, quem sabe, os futuros campões de um sexto império.