Crónicas de Gestão | Economia do ouro negro

Graças às tecnologias que permitiram explorar o chamado gás e petróleo de xisto, surgiram nos EUA novos projetos que permitiram a criação do comumente designado “boom” de “petróleo alternativo”. Da mesma forma, no Canadá e outros países (nomeadamente na Venezuela) surgiram projetos que permitiram tornar a exploração de “areias petrolíferas” economicamente viável (sobretudo com preços de barril acima de 100 dólares). Simultaneamente, os preços elevados do petróleo levaram a investimentos globais generalizados em eficiência energética, energias renováveis e meios de transporte menos intensivos em petróleo. Seria de esperar que estes factos (diminuição da procura e aumento da oferta – não só a acima referida, mas também a vinda da Rússia), conjuntamente com a crise económica, tivessem levado a uma diminuição dos preços globais do crude, mas dadas as crises políticas no médio-oriente (Irão, Líbia, Iraque) e o não aumento da produção saudita, os consumidores globais continuaram sem qualquer alívio, pelo menos, até recentemente.

Todavia, a conjugação dos recentes ecos da crise com o aumento da produção global levou a uma descida dos preços do petróleo, mostrando que as leis económicas fundamentais raramente falham. Há quem afirme que esta descida abrupta do preço está ligada a uma aliança geopolítica entre a Arábia Saudita e os EUA, a fim de colapsar a economia Russa (cujo boom do petróleo tem financiado os orçamentos e a sua expansão belicista). Na verdade, talvez a produção elevada saudita seja uma forma de destruir a concorrência (Norte-Americana e Russa) e de retirar o excesso de petróleo no mercado, já que os custos de exploração neste país são dos mais baixos do mundo (abaixo dos $20-$30), tornando não rentáveis os diversos projetos de xisto e areias e adiando novas decisões de investimento nesta área, em diversos países do mundo.

 

Mas sendo esta baixa uma boa notícia, originando uma transferência de riqueza de grandes empresas e países para o lado do consumidor, ela traz transtornos aos produtores (cujos orçamentos nacionais dependem, muitas vezes, de preços acima de $80/90 para estarem equilibrados), mas também às economias europeias e japonesa a braços com deflação (e uma incorporação de expetativas de descida de preços futura pode levar a um maior adiamento de decisões de compra). Tal como na geopolítica, na Economia, voltamos a guerras antigas, provando que o “fim da história” foi uma miragem da década de 90 e que velhos problemas são novos problemas. Vamos esperar, no entanto, que as velhas lições tenham também sido aprendidas.