Crónicas de Gestão | DE HONESTIDADE

Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School

Uma pesquisa da Universidade de East Anglia descobriu que a honestidade pode variar significativamente entre países. O estudo examinou se as pessoas de diferentes países seriam mais ou menos honestas e como isto estaria relacionado com o desenvolvimento económico. Os 1500 participantes foram convidados a lançar uma moeda ao ar e indicar se o resultado seria Cara ou Coroa. A bonificação seria de $5 para Coroa e $3 para Cara (quem visivelmente reportasse uma percentagem muito elevada de coroas estaria a ser menos honesto). Para além disso, os participantes foram convidados a preencher um questionário sobre música, onde seriam novamente recompensados ​​financeiramente se respondessem a todas as perguntas corretamente (mas sem procurar as respostas na internet, o que foi parcialmente controlado).

A desonestidade estimada no lançamento da moeda variou de 3,4% no Reino Unido para 70% na China (Portugal foi o 3ª mais honesto). Quanto ao questionário, os entrevistados no Japão foram os mais honestos, seguidos pelo Reino Unido, enquanto os da Turquia foram os menos verdadeiros (Portugal foi o 4º menos honesto). Os participantes também foram convidados a prever a honestidade média de outros países. O que se observou foi que as diferenças na honestidade entre países não corresponderam ao que as pessoas esperavam. Surpreendentemente, as pessoas foram mais pessimistas sobre a honestidade das pessoas no seu próprio país do que de pessoas de outros países. No cômputo geral, os participantes esperavam que a Grécia fosse o país menos honesto, mas no teste da moeda foi um dos mais honestos (mesmo quando os próprios gregos eram dos mais pessimistas sobre o seu próprio país). O estudo sugere que a relação entre honestidade e crescimento económico enfraqueceu ao longo dos últimos 60 anos, havendo pouca evidência de uma ligação entre o crescimento atual e honestidade.

Uma explicação é que quando as instituições e tecnologia são subdesenvolvidas, a honestidade é importante como um substituto para a execução formal de contratos. Mais tarde, o crescimento económico melhora instituições e tecnologia, tornando mais fácil existirem contratos para forçar essa honestidade. No fundo, os resultados sobre a Grécia parecem indiciar alguma da perceção geral construída pelos media ou pela necessidade de justificar tratamentos mais severos (baseada em factos pouco reais). Talvez as diferenças entre países sejam menores do que aquelas que esperamos e sejamos demasiados rápidos a julgar todos aqueles que são diferentes de nós (cultural ou economicamente).

 

Crónica publicada na edição de 26 de novembro de 2015 do Jornal de Leiria.