CONVERSAS NA BASE | FALÁCIA DA (DES)ECONOMIA

Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School

Nas últimas três décadas, a Economia passou por uma profunda mudança. A ascensão da tecnologia de informação e novos métodos estatísticos aumentaram drasticamente a importância dos dados e do empirismo, aumentando a complexidade e fiabilidade de algumas teorias. Ora, o resultado da melhoria da ciência económica (cuja natureza já foi debatida nestas crónicas) é que muito do que o público em geral, e até alguns políticos, aprendem ao nível mais básico (onde os modelos são simplificações sobre as quais se construem outros mais robustos e completos) está errado. Por exemplo, a teoria básica diz-nos que as políticas de salário mínimo devem ter um impacto negativo sobre o emprego.

Num mercado livre, os salários ajustam-se de modo a que todos os que querem um emprego consigam obtê-lo. Trabalhadores menos produtivos/qualificados ganham menos, mas serão ainda empregados. Ao definirmos um preço mínimo para o trabalho, vários trabalhadores ficarão desempregados (a procura de trabalho será inferior à oferta para aquele preço específico, gerando desemprego). Na realidade, nas últimas duas décadas, os economistas empíricos olharam para um grande número de aumentos do salário mínimo e concluíram que, na maioria dos casos, o efeito imediato sobre o emprego é muito pequeno. É apenas a longo prazo que o salário mínimo pode começar a fazer uma grande diferença (sendo interessante a proposta recente do governo Japonês de aumentar o salário mínimo 3% ao ano). Isso não significa que a teoria está errada, mas provavelmente descreve apenas uma pequena parte do que realmente acontece. Na realidade, o emprego, provavelmente, depende de muito mais do que apenas do nível salarial de hoje – depende de previsões de salários futuros, das relações de trabalho de longa data e de um conjunto de outras coisas (outra falha interessante na economia básica é que qualquer subvenção ao bem-estar gerará um nível de trabalho menor, quando, em muitos casos, a evidência empírica diz-nos que estes programas resultam no aumento da capacidade dos mais pobres para melhorar as suas habilidades e serem mais produtivos do que antes).

O resultado é que lições básicas de economia repetidas por jornalistas mal informados ou comentadores sem conhecimento económico geram o fenómeno da mentira repetida mil vezes passar a falsa verdade. Esse é aliás um fenómeno gritante da política económica moderna, em que a evidência nos diz uma coisa, e todo o mundo parece rumar no sentido contrário.

 

Crónica publicada na edição de 03 de dezembro de 2015 do Jornal de Leiria.