Num mês marcado pela notícia da retoma económica portuguesa (sólida ou não, ela foi prevista nestas crónicas há muitos meses atrás), por mais atentados terroristas, pela saída dos EUA dos acordos climáticos de Paris (algo tão esperado quanto oco, já que a indústria das energias renováveis emprega muito mais pessoas do que a do carvão e petróleo e abre, por outro lado, uma avenida para tarifas de carbono sobre produtos e serviços do país), há uma notícia que pode passar despercebida mas que deixa antever o futuro da economia global. Coletivamente, Google, Amazon, Apple, Facebook e Microsoft arrecadaram mais de 25 mil milhões de lucro líquido no primeiro trimestre de 2017. A Amazon capturou metade de todos os dólares gastos online nos EUA, enquanto Google e Facebook representaram quase todo o crescimento da receita em publicidade digital nos EUA do ano passado. O petróleo do século XXI são os “dados” que movem o negócio destas empresas. Ao vermos televisão, corrermos, conduzirmos, navegarmos na internet ou fazermos “likes” estamos a gerar dados que são tratados por estas empresas. Enquanto isso, as técnicas de inteligência artificial, como a aprendizagem por máquina, extraem mais valor desses dados e criam padrões que permitem otimizar ofertas. Estes algoritmos podem prever quando um cliente está pronto para comprar, um motor a jato precisa de serviço ou uma pessoa está em risco de uma doença. Esta tendência chegou hoje à produção e é conhecida pelo termo “indústria 4.0”, com a digitalização e recolha de dados sobre processos de produção (sensores em máquinas, linhas de produção, embalagens, etc.), que permitirão criar modelos para maior eficiência. Na verdade, gigantes industriais como a GE e a Siemens “vendem-se” hoje como empresas de dados. Mas tal como no início do século passado as economias de escala deram origem a “quase monopólios”, também hoje o domínio dos dados gera economias de rede que bloqueiam a concorrência (sem acesso a dados, os pequenos concorrentes não conseguem competir). Este é um fenómeno que se sente na publicidade online ou em outras áreas (como o comércio eletrónico), uma vez que as economias de rede são propícias a modelos de “vencedor arrecada tudo”. O ouro negro desde século são os dados e modelos – um bom aviso para as empresas nacionais.
Crónica publicada no Jornal de Leiria a 8 de junho de 2017.