Inovação, empreendedorismo e dinâmica setorial | Crónicas de Gestão

Porque mudam os setores? Em cada ano cerca de 20% de empresas entram e saem de um determinado setor (apenas em situação de crise o número de empresas que desaparece ultrapassa as que nascem). Se apontarmos a lente de análise a setores específicos conseguimos perceber a dinâmica de maturidade de uma determinada indústria. Se há mais empresas a desaparecer e as vendas decrescem este é um setor em declínio. Se as vendas crescem, mas há mais empresas a desaparecer do que a aparecer, estamos na fase de crescimento. Se o nível de vendas é estável e elevado, e o número de empresas é constante, estaremos em maturidade. Mas porque razão o mercado é um turbilhão evolutivo em vez do equilíbrio teórico que alguns economistas defendem? A resposta não está apenas nas ações estratégicas de cada empresa, mas sim na Inovação. É a inovação tecnológica que cria e molda os setores. Quando ela é radical dá azo à criação de novos setores e à reconfiguração de toda a economia (a máquina a vapor, a energia elétrica, o carro, o transístor e o microprocessador são exemplos dessas inovações). Este processo conduz muitas vezes à destruição criativa (cunhada pelo economicista Schumpeter). Este fenómeno é evidente no caso dos fabricantes de máquinas de escrever que despareceram com o nascimento do processador de texto/microcomputador, menos evidente no caso dos smartphones, onde a Nokia foi desalojada por uma empresa da área do software – a Apple (quando isto sucede, as empresas que operam em mercados que são desalojados pela tecnologia tentam muitas vezes dar o salto, mas faltam-lhes as necessárias competências – foi o caso da Olivetti ou da Kodak). Na fase inicial de cada setor existem “ondas” de empreendedores, que depois desaparecem dando lugar a grandes empresas (em 1910 havia 500 fabricantes de automóveis, hoje existem 10 grandes grupos). As empresas que acertam na fórmula certa são aquelas que perduram (o caso da Ford como seu modelo T) e se tornam grandes empresas. A partir da fase de crescimento “economias de escala” e “inovação de processo” tornam-se mais importantes, dando vantagem às grandes empresas (e Portugal não conseguiu gerar grandes “campeões” de inovações passadas). A aposta nacional no empreendedorismo, sobretudo ligado à inovação mais radical, tem um propósito muito relevante – descobrir os novos campões, assegurar a competitividade na indústria/setores do futuro. O importante é que no meio desta onda nasça uma futura Apple, Volkswagen ou GE (temos para já a Farfetch).

Esta é uma crónica dedicada a duas pessoas. Ao João Vasconcelos, provavelmente umas das pessoas que mais fez em menos tempo pela indústria, empreendedorismo e dinâmica empresarial do país. Uma mente brilhante e um espírito avassalador. Ao Sidónio, um exemplo de virtude, perseverança e espírito fraterno. Fica a saudade e a obra. Obrigado a ambos!

Crónica publicada no Jornal de Leiria