Filosofia de gestão | Crónicas de Gestão

Criatividade, empatia e curiosidade são características cada vez mais procuradas pelos empregadores. Capacidade de liderança, de trabalhar em equipa e de compreender as necessidades do outro são fatores diferenciadores para o sucesso. A questão da empatia é particularmente importante. Empatia não significa sentir pena dos outros, mas sim ser capaz de colocar-se no lugar do outro ou a capacidade de compreender as necessidades e desejos de um grupo diversificado de pessoas. Para sermos bons líderes temos de compreender os colaboradores e os contextos. Para sermos bons gestores temos de ser capazes de compreender as necessidades do cliente e conseguir satisfazê-las, mas é também necessário entender os anseios dos empregados, os objetivos dos acionistas, a vontade dos fornecedores e até o contexto local e social onde a empresa se insere. A era do “CEO” psicopata parece ter acabado (vários estudos apontavam que o índice de psicopatia era mais alto entre CEOs do que na população em geral), dando lugar ao gestor consciente. Mas não é só para gerir que temos de ter empatia. Não se podem criar e desenhar bons produtos sem nos colocarmos no lugar do utilizador final (um dos trâmites centrais da filosofia do design thinking). Dificilmente se pode desenhar um produto para um doente hospitalar sem realmente compreender a angústia da situação, o desconforto, campo de visão, etc. Mas também não se podem desenhar bons jogos de computador sem perceber o que move o jogador, o que faz uma boa história, o que é uma boa mecânica. E não se pode desenhar um smartphone e o seu software sem compreender a visão do utilizador, o seu contexto pessoal e as suas interações sociais. Ora, esta longa introdução remete-nos para o crescimento da importância das softskills no mundo empresarial ou das áreas de formação mais transversais ou “fora da caixa”. Filosofia, humanidades, artes são disciplinas cada vez mais relevantes no século XXI. Eu posso ter um bom programador, mas se ninguém compreender as dores do cliente final, a minha aplicação de nada vai adiantar. Posso criar um produto tecnicamente irrepreensível, mas se não funciona no contexto em que o utilizador se move, ele torna-se obsoleto. Saber pensar, interligar conceitos, saber história, antropologia ou arte é cada vez mais necessário quando as pessoas se libertam de tarefas intelectualmente rotineiras. Exemplos como os de George Soros (Investidor) e Miguel Milhão (fundador da Prozis) ambos licenciados em filosofia, ou de Chad Hurley (fundador do Youtube) licenciado em Arte ou ainda de Carolyn McCall (antiga CEO da Easyjet) licenciada em história, mostram-nos que o mundo da tecnologia e da gestão é hoje mais eclético e transversal. Paradoxalmente, num mundo onde a matemática e a computação exigem mais especialização, a automação liberta as pessoas para pensar. A lição é perseguir o que se gosta de aprender, porque essa paixão terá um lugar na empresa.

Crónica publicada no Jornal de Leiria