Recessão | Crónicas de Gestão

Onde está a próxima recessão? Claramente atrasada. Este é o maior período da história dos EUA sem uma recessão, com 122 meses consecutivos de crescimento. A bolsa dos EUA subiu 19% em 2019 e a taxa de desemprego está num dos seus valores mais baixos de sempre. Na Europa os sinais são semelhantes, embora o bloco seja menos homogéneo e a Europa tenha atravessado duas crises económicas consecutivas em 2008 e 2010/11, devido sobretudo a um erro de política monetária (causado pela pressão da Alemanha para subir as taxas de juro). O que está por detrás deste longo período de crescimento e porque não existem ainda sinais de recessão? Primeiro, a maioria das recessões têm sido causadas por choques externos ligados ao petróleo (mas as economias são hoje em dia menos dependentes deste input e o seu fornecimento mais diversificado), por declínios da produção industrial e por erros de política monetária (misturados com endividamento). Atualmente a indústria representa apenas 11% do PIB (os serviços representam cerca de 70%) sendo a economia mais eficiente do ponto de vista energético (comparativamente a 1999, requer-se em média menos 25% de energia para o mesmo output). O investimento é hoje realizado em ativos intangíveis (patentes, I&D, marcas), sendo este tipo de investimento mais constante e menos atreito a declínios e, logo, a recessões. Outro fenómeno que parece ausente do moderno mundo económico é a inflação. Em períodos de longo crescimento com elevado emprego, os economistas esperam que a inflação aumente, este crescimento leva ao aumento das taxas de juro, o que precipita muitas vezes a recessão. Ora, neste momento o que vemos é um pouco usual período de muito baixo crescimento com inflação baixa – e porquê? Porque os salários têm crescido pouco e os trabalhadores têm menos poder de negociação. Por outro lado, mesmo verificando-se uma subida nos salários existem descidas de preços em muitos outros bens (resultantes de maior produtividade), que impedem a subida generalizada dos preços. Desta forma os Bancos Centrais têm mantido baixas taxas de juro e políticas monetárias expansionistas. Finalmente, este é um período de longo crescimento, mas caracterizado por taxas de crescimento baixas (e, apesar do aparente aumento do crédito, este é hoje mais seguro). Ora, sendo a descrição anterior aplicada sobretudo aos EUA, ela tem um paralelo próximo na Europa e em Portugal. Sabemos que o protecionismo e guerras de tarifas poderiam ter disparado uma recessão (industrialmente existem sinais disso), mas tal não aconteceu. As políticas erráticas dos EUA, Itália, etc., poderão ainda contribuir para o precipitar de uma nova recessão, mas para já tal parece ainda distante. Resta aproveitar este período e antecipar os sinais da próxima recessão, para que esta não seja tão grave e permita uma rápida recuperação.

Crónica publicada no Jornal de Leiria