Crónicas de Gestão | Planeamento fiscal e financeiro

Como já referimos em outras crónicas, a complexidade fiscal de países como Portugal é incomensurável, gerando problemas nos agentes económicos e assimetrias de comportamento. Obviamente, este não é um problema exclusivo do nosso país, como demonstram os casos das multinacionais que usam as suas diversas localizações para explorar vantagens fiscais, pagando, por vezes, quase zero de imposto sobre os lucros nas suas sedes originais (note-se que estas empresas geram outro tipo de rendimentos e impostos nos países onde estão localizadas, logo há sempre uma forma de criação de riqueza que será coletada).

No entanto, não deixa de ser curioso que, em países como os EUA, as empresas sejam equiparadas a pessoas (singulares) com direito à liberdade de expressão (através do lobbying), mas os particulares não sejam equiparados a empresas na sua tributação fiscal (mas esta é uma outra discussão). Evidência desta complexidade é o que temos assistido no caso BES, com milhões de euros a deslizarem pelas fendas de um esquema complexo e hermético para a maioria de nós. Mas a verdade é que as pequenas empresas não competem num campo nivelado, já que a maioria não executa planeamento fiscal (o legal e não o “abusivo”) e não cruza essa antevisão com a gestão financeira da própria organização. As questões do financiamento e gestão de tesouraria são essenciais para que gestores possam escolher os melhores instrumentos, minimizando o custo financeiro e, por esta via, aumentando o valor empresarial. É fundamental que um planeamento atempado permita mitigar, pelo menos parcialmente, alguns riscos com recurso aos mercados financeiros, como, por exemplo, o risco de taxa de juro ou de flutuação dos preços das matérias-primas e problemas comerciais. Para as empresas que operam em contexto internacional, adicionalmente, o risco cambial ocupa um lugar de destaque.

Contudo, o que verificamos é que a maioria das empresas continua a fazer uma má gestão financeira e de tesouraria, não recorrendo a instrumentos e conhecimentos que estão facilmente acessíveis. Este facto é patente na relação entre empresas e entidades financiadoras, pautada pela preferência de instrumentos de curto-prazo e por negociações enviesadas para o lado do financiador. É por isso que, mais uma vez, a educação de empresários e gestores permite o acompanhar da complexidade do mundo financeiro (e na D. Dinis Business School criámos instrumentos de apoio nesse sentido), realçando, mais uma vez, que nas batalhas de mercado, o conhecimento é a arma mais importante.