Crónicas de Gestão | 2020

Estamos em 2020, 9 anos após a intervenção da Troika. Portugal, 4 anos após o início do Governo de bloco central, resultante das eleições legislativas de 2016 (provocadas pela moção de censura, que aliou parte da esquerda e da direita), mostra agora sinais de recuperação e os níveis médios de rendimento atingem o valor mais alto desde 2009. Depois da década “da estagnação”, esta década é caracterizada pela crise e posterior recuperação. A economia nacional iniciou um lento processo de restabelecimento, beneficiando da descida dos juros da dívida (que se manteve por alguns anos, graças à instituição de novas regras de união monetária, com pooling de dívida), bem como da descida dos preços da energia e do pacote de investimentos em infraestruturas da UE (que travou a deflação). Por outro lado, o quadro comunitário de apoio (vulgo “20-20”) foi o programa de investimento com maior taxa de utilização (e menor uso fraudulento) na história portuguesa, apoiando melhorias transversais na formação profissional, eficiência energética, capacidade de inovação e internacionalização das empresas.

A inflexão nas políticas de educação, apoiada pelo programa quadro, levou à criação de um sistema científico e de ensino superior, que privilegia a excelência, para além de uma forte (mas não exclusiva) ligação ao tecido empresarial. Em 2020, Portugal consegue atrair jovens investigadores, estancando finalmente a fuga de cérebros. O sistema judicial português continuou um processo de reformas e tornou-se bem mais eficiente, respondendo a empresas e cidadãos de forma mais célere (por exemplo, os processos de cobrança de dívidas têm hoje um tempo médio de alguns meses e não de alguns anos). O sistema financeiro tornou-se mais competitivo, mesmo a nível do capital de risco, o que permitiu a geração de uma vaga real de empreendedorismo “por oportunidade”. Reformas na lei da concorrência permitiram uma verdadeira competição no setor energético e das comunicações. O sentimento de corrupção económica e política que vingava no país em 2014 é hoje apenas uma miragem, com o nosso país a aproximar-se duma realidade mais “escandinava”.

Finalmente, fruto de uma fiscalidade mais simples e justa, o país consegue não só atrair mais investimentos, como promover um sentimento de equidade. Contudo, problemas demográficos, um novo choque com a subida do petróleo em 2019, competição com países do oriente (a subir na cadeia valor) e as tensões políticas com a China e Rússia ameaçam minar este processo de recuperação. Talvez seja este um possível futuro, talvez seja apenas um Portugal que poderia vir a ser… mas deixo este exercício de otimismo futurista, como um voto de Bom 2015 a todos os leitores.