Um recente estudo do Credit Suisse AG (dificilmente um arauto contra o capitalismo) constatou que a riqueza global está hoje 20% acima do seu valor antes da crise de 2008. Esta seria uma boa notícia se fosse conjugada com outros dados positivos sobre a distribuição desse valor. De 2000 a 2007, a riqueza mediana por adulto aumentou em 142%, superando a riqueza média que aumentou apenas 65% (um sinal de diminuição da desigualdade, já que a média é afetada pela riqueza crescente de uma pequena percentagem da população). Contudo, no pós-crise, enquanto a riqueza média recuperou (sobretudo graças ao crescimento do topo), a riqueza mediana não conseguiu retornar aos valores pré-crise, estando agora em 3641 dólares, contra 4215 dólares em 2007, o que representa uma queda de quase 14%. Ora, este é um dado interessante sobre como apesar do “milagre” chinês, a riqueza mediana global diminuiu (sobretudo com a erosão das classes médias nos países mais desenvolvidos e um aumento de desigualdade a Oriente). Obviamente, nunca é de mais realçar a quantidade de pessoas que, apesar de tudo, pertence hoje à classe média global (cerca um bilião de adultos), com a parcela Chinesa deste total a representar um terço – o que diz muito da capacidade da economia chinesa para gerar riqueza e retirar pessoas da classe mais pobre (mesmo que à custa de maior desigualdade).
Estes dois dados são significativos porque demonstram que a crise económica parece ter efetivamente aumentado a iniquidade e, por outro lado, marca a definitiva ascensão chinesa como o maior mercado potencial do mundo. Para as empresas portuguesas, esta é mais uma certeza sobre aquilo que há uma década vimos falando – a China é um concorrente (que eventualmente subirá na cadeia de valor, pelo que deveremos ter sempre atenção a esse aumento de competitividade), mas é também um mercado (ou “o mercado” por excelência) ávido por produtos ocidentais, que ajudam a “celebrar” a recém-descoberta riqueza de milhões de cidadãos.
Mas para as autoridades ocidentais este é também um alerta para um aumento da desigualdade que tende a agravar-se (com a crescente automação da economia), pelo que novos mecanismos de crescimento e redistribuição têm se ser ponderados. Não nos esqueçamos que sociedades de extremos são sociedades condenadas à radicalidade (tirânica ou revolucionária). Esperemos que as empresas nacionais sigam o mercado e que as autoridades políticas ponderem o impacto de medidas de austeridade futura.