Crónicas de Gestão | Na mesa do casino

Toda a informação que temos disponível é sobre o passado e todas as decisões que tomamos são sobre o futuro. Este é um problema do senso comum que afeta as decisões dos gestores e investidores. Este tipo de raciocínio, de pensarmos que o futuro será igual ao passado, está bem presente em imensas decisões que tomamos no nosso dia-a-dia, nos nossos investimentos ou nas nossas opções políticas. Ele resulta de um mecanismo evolutivo enraizado nos nossos genes, a capacidade de detetar padrões, que nos permitiu sobreviver e prosperar (se um animal é perigoso registamos essa informação para fugir no futuro).

Contudo, num complexo sistema social com tendência para a entropia, nem sempre “aquilo que foi será de novo”. Um reflexo desta falácia está presente nas zonas urbanas fantasma (as cidades médias portuguesas albergam milhares de fogos vazios), resultantes de um planeamento urbano que supunha uma expansão linear da população (que nunca veio a acontecer) ou de uma presunção de ganhos imobiliários permanentes, que hoje sabemos ser insustentáveis. Outro reflexo mais comum deste problema é evidente nos comportamentos de pequenos investidores nos mercados financeiros (ou até mesmo de grandes investidores, veja-se o caso bem recente do fundo Everest Capital´s Global que perdeu 840 milhões de dólares com o fim da indexação do Franco suíço ao Euro).

Obviamente podemos sempre mitigar esta lacuna incorporando na nossa decisão cenários sobre aquilo que achamos poder acontecer no futuro. Todavia, como seres humanos, temos outras falhas graves nos nossos mecanismos de decisão, como sejam a ancoragem (a tendência para tomarmos uma decisão baseada nos poucos factos que temos), conformidade com o grupo (tomar decisões baseadas em maioria, mesmo que erradas), extrapolação a partir de amostras não aleatórias (extrapolar a partir de acontecimentos fortuitos que não sabemos ser comuns), ou até mesmo a atribuição das nossas conquistas a fatores intrínsecos e dos nossos erros a terceiros ou causas externas.