Crónicas de Gestão | o declínio da formação

É sabido que um dos principais drivers da produtividade e do crescimento de uma empresa, região ou país é o nível de educação dos seus recursos humanos. A esmagadora maioria dos investigadores mostra uma relação positiva e significante entre o investimento em capital humano e o crescimento económico, bem como com a competitividade das empresas. Esta aceção conduz-nos a duas ideias. Primeiro, que trabalhadores com melhor educação poderão ter maiores salários; segundo, que seria fundamental para a competitividade das empresas apostar na capacitação dos seus colaboradores.

Ora, dois dados recentes sobre a economia americana, que têm alguma correspondência na Europa e em Portugal, demonstram que estas duas perspetivas poderão estar a perder a sua evidência. Estes dados indicam que a percentagem de trabalhadores a receber formação paga pela empresa (ou feita na) diminuiu, de 1996 ao presente, para quase metade. Por outro lado, os salários medianos, ajustados à inflação, dos trabalhadores com maiores qualificações caíram para níveis de 1998. Estes dois fenómenos são interessantes, porque demonstram duas coisas. Por um lado, num ambiente de elevado desemprego a maioria dos empregadores prefere não apostar nos colaboradores, porque tendo em conta o nível de rivalidade no mercado de trabalho, os próprios trabalhadores procuram muitas vezes ser mais competitivos, “atraindo” possíveis ofertas de trabalho.

Simultaneamente, um mercado mais dinâmico, como o do século XXI, leva a um menor tempo de permanência num emprego, pelo que as empresas estão menos dispostas a investir em trabalhadores que poderão partir. A questão dos ganhos salariais está também ela ligada ao clima de elevado desemprego, com reflexo não só nos trabalhadores qualificados como nos não qualificados. Por outro lado, alguns investigadores apontam a questão do “skill gap” (existem muitos trabalhadores qualificados, mas em profissões com menos potencial futuro). Finalmente, economistas como Krugman apontam a distribuição desigual de poder, para explicar como o aumento dos lucros empresariais tem tido pouco impacto nos ganhos salariais. Estas não são questões lineares, mas colocam ênfase no paradoxo da importância do capital humano versus o investimento neste. Talvez, esta seja uma oportunidade para inverter esta tendência e apostar definitivamente na mudança de paradigmas, apostando na formação como instrumento de competitividade e fidelização dos recursos humanos.