CRÓNICAS DE GESTÃO | O FIM DO EMPREGO (II)

Vítor Ferreira

Diretor Executivo da D. Dinis, Business School

O fim do emprego como o conhecemos é um tema que já abordámos nestas crónicas, mas como contemplar o futuro é uma tarefa essencial em Economia e Gestão, voltamos a enfatizar esta problemática. A automação e substituição de trabalho alcançam hoje não só aquilo que chamamos de trabalho físico (situação que há mais de 200 anos), mas também o emprego que exige competências elevadas, bem como as funções dos chamados profissionais liberais. O progresso tecnológico permitiu que a maioria da população deixasse a economia agrícola para a indústria e finalmente para os serviços. Ao longo das várias revoluções tecnológicas, a “destruição criativa” de Schumpeter tem tomado conta da economia, com as inovações a gerarem aumentos da produtividade e melhoria das condições de vida, com períodos de ajustamento que levam à criação de novos empregos, “destruindo” os anteriores (por exemplo, como o PC substituiu uma série de indústrias, a começar pela das máquinas de escrever).

Contudo, alguns investigadores consideram que esta é uma revolução diferente, porque a criação de novos redutos de atividade humana torna-se cada vez mais difícil, quando o que hoje se substitui é a capacidade intelectual e não a física. Sabemos há muito que tarefas braçais são realizadas por robots industriais, mas hoje surgem também os primeiros robots de serviço pessoal (que podem cuidar de idosos ou fazer café, sempre da forma que cada utilizador gosta) – estes robots são capazes de ver, replicar e aprender a realizar tarefas. Em profissões de maior intensidade de conhecimento, verificamos que o software, vulgo bots, são responsáveis pela escrita de notícias, pela realização de tarefas de marketing, de contabilidade ou financeiras (a esmagadora maioria das transações de bolsa é realizada por bots a negociar com bots). Da mesma forma, a IBM utiliza hoje o seu Watson para realizar diagnósticos médicos, conseguindo vantagens não replicáveis pelos humanos (compilando toda a informação médica dos doentes, cruzando com todos os medicamentos existentes e toda história global de interações). E até firmas de advocacia utilizam software para encontrar os factos relevantes no processo, entre milhares de documentos.

Esta revolução não acontecerá daqui a 100 anos, ela está aqui (como cedo se aperceberão todos aqueles que perderão o seu emprego para carros autónomos), e abrange até mesmo domínios da criatividade humana (hoje existe software que compõe música indistinguível da humana). Cabe a cada um de nós, nas empresas e na política, refletir como lidar com este futuro próximo.