Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
As ilhas da Grécia,as ilhas da Grécia!
Onde a ardente Safo amou e cantou,
Onde a arte da guerra e a da paz cresceram,
E Delos surgiu, que a Apolo abrigou!
Um eterno verão as doura ainda,
Mas tudo, exceto o sol, já descambou.
(Lord Byron, 1788-1824)
Este poema foi escrito pelo poeta inglês, Lord Byron, que deixou a sua indelével marca no movimento romântico do Século XIX. Byron nas suas viagens pelo mundo (que também o trouxeram a Portugal, onde se terá apaixonado por Sintra) ganhou uma certa afeição à cultura da Europa do Sul, tendo vivido 7 anos em Itália e 1 ano na Grécia, onde viria a falecer, combatendo ao lado dos gregos pela independência do país contra o Império Otomano. Porquê uma crónica de economia sobre um poeta? Como apontou Paul Mason no “The Guardian”, Byron foi contemporâneo de Goethe (escritor e estadista, nome maior da cultura alemã), que inicialmente se opôs à revolta Grega com receio de que a Rússia ocupasse o vácuo deixado pelos Otomanos. Goethe, como a maioria dos alemães, acreditava numa liberdade nascida do respeito pela lei e autoridade, enquanto numa visão mais enraizada na revolução francesa ou na independência Americana, a liberdade nasce da oposição à autoridade (mais próximo do que se passava na Grécia). A ferocidade das convicções de Byron e a sua morte terão levado Goethe a mudar de ideias.
Também hoje, vemos uma Grécia errante, com um Governo a clamar por reparações (no valor de cerca de 340 mil milhões de euros) de uma guerra há muito sofrida (não se discute a moralidade do pedido, apenas o seu aspeto prático). Este é um país entrincheirado a sul pelo Estado Islâmico, a este pela Turquia e com uma ligação próxima à Rússia (começando na religião). Esta especificidade geopolítica grega não é despicienda, fazendo desta mais do que uma crise económica, o que significa que as ameaças do seu Governo não são tão vápidas quanto ressoam (e os alarmes terão soado em Washington, que terá mesmo pressionado a Alemanha). Nesse sentido, mais uma vez, seria fundamental um caminho do meio, um caminho europeu pontuado por uma maior solidariedade e uma maior compreensão de tudo aquilo que nos une, mas também de tudo o que nos faz sermos diferentes.
Tal como escrevia Byron, tudo descambou na Grécia restando apenas o sol. A nós europeus cabe trilhar um caminho, possivelmente o do federalismo, pois só este significará uma maior união e prosperidade (embora estejamos muito longe, como se vê por um algum extremismo grego e pela intransigência alemã).