Vitor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Mercados eficientes são instrumentos poderosos de criação de riqueza, mas existem externalidades óbvias, onde o Estado tem um papel essencial – por exemplo, promovendo a Educação/Ciência, porque este é um dos principais atributos para a diminuição da inequidade e aumento do potencial do capital humano. Por outro lado, o Estado tem de intervir mitigando externalidades negativas (como a poluição, o dumping social ou o uso de recursos públicos), porque as empresas não incorporam nas suas funções de custos os impactos sociais negativos que geram. Os mercados têm um papel essencial na chamada “economia do desenvolvimento” (embora esta constatação encontre inúmeros detratores).
Ao contrário da crença popular, em termos objetivos, o comércio internacional gerou, nas últimas décadas, riqueza (mesmo com níveis elevados de inequidade), que permitiu retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza (especialmente no sudeste asiático e américa latina). Este efeito tem finalmente alcançado algumas zonas de África (especialmente as politicamente mais estáveis). Alguns investigadores argumentam que a ajuda ao desenvolvimento tem um papel importante na assistência de emergência, mas que nunca gerou efeitos de cumulatividade económica. Por outro lado, a economia centrada na exploração de recursos naturais, realizada por multinacionais, tem gerado algum aumento do rendimento disponível, mas não produz elevados impulsos de crescimento económico.
Verdadeiramente, apenas o desenvolvimento de mercados modernos, onde pontuam multinacionais, mas também empresas locais com capacidades locais, sistemas de empreendedorismo com financiamento global e instituições fortes (que regulam propriedade privada e relações entre agentes. económicos) permite o chamado “catching up”, que se tem registado em países como o Quénia. No fundo, um mercado “livre”, com real concorrência, com consumidores com rendimento crescente, gera efeitos de atração de investimento internacional/nacional e leva à criação de novas empresas, gerando um efeito cumulativo, impossível de imitar com a pura intervenção estatal (que ainda assim é importante na promoção da educação, nas ligações ao sistema científico e mesmo no apoio ao financiamento). No fundo, é curioso que o mercado tenha um papel vital onde é mais necessário (na fuga à pobreza extrema) e que seja muitas vezes descrito como uma ameaça aos mais desfavorecidos.