Crónicas de Gestão | FALÊNCIA EUROPEIA

Na Grécia 70% das hipotecas negociadas estão em incumprimento. A maioria da população, face à incerteza das negociações e à perspetiva de uma possível saída do euro, simplesmente decidiu deixar de pagar. Dada a magnitude da quebra económica, desemprego e aumento da carga fiscal, muitas pessoas decidiram sobreviver, não pagando impostos ou hipotecas, agravando de novo a situação do país.

O recurso mais valioso das empresas e nações é o conhecimento e o seu capital humano. A Grécia e Portugal perderam uma das gerações mais bem preparadas de sempre, que hoje alimenta o crescimento ímpar do Reino Unido e de outros países. À semelhança do que acontecia na antiguidade, quando um Estado/Cidade decidia impor uma carga fiscal elevada e parava as obras públicas, o custo de vida e de fazer negócios tornava-se incomportável e os cidadãos simplesmente fugiam. Como já vimos nestas crónicas, a nossa União Monetária é “imperfeita”  e, nesse sentido, para corrigir possíveis diferenças de competitividade entre países seria necessário instituir mecanismos de transferências de riqueza, mutualização de dívida e caminhar para uma união bancária e fiscal.

Porém, nenhuma destas ferramentas foi implementada e a solução surgiu sob a forma de austeridade, que previa impactos negativos na procura, no produto e no emprego, mas de uma magnitude muito aquém da realidade. Na Grécia, ao contrário do esperado, a recessão ganhou força e o país bateu no fundo em 2014, tendo experimentado uma profunda depressão, com desemprego global de 28%-30%. Isto apesar do país ter imposto cortes drásticos nos serviços públicos, salários de funcionários públicos e benefícios sociais. Graças a repetidas novas ondas de austeridade, a despesa pública foi cortada acima do que o programa original previa e é atualmente cerca de 20% menor do que era em 2010. Com o PIB a decrescer tão rápido, apesar da subida acentuada da carga fiscal e tendo em conta os juros da dívida, os défices continuaram a acumular-se, mesmo que recentemente o país tenha registado um superavit primário (ao contrário de Portugal). Obviamente que existe margem para melhorar a Grécia (no seu mercado de trabalho, ineficiência pública e sistema fiscal), mas este não é um país de malfeitores, como uma parte da sociedade portuguesa parece pensar. Na verdade, a história recente da Grécia, da sua entrada na UEM até à negociação recente, representa não só a falência do país, mas também de todo o projeto Europeu.