Crónicas de Gestão | MIGRAÇÃO

“Se a Europa fracassar na questão dos refugiados, se esta ligação próxima com os direitos civis universais se quebrar, então esta não será a Europa que desejámos”.

A frase poderosa que citamos, a fazer lembrar os verdadeiros estadistas que a Europa perdeu, foi proferida por alguém que em alguns assuntos tem estado do lado menos bom da história (económica, pelo menos) – Ângela Merkel. A questão da migração e do seu impacto na Europa revela o pior lado dos Europeus, dos seus políticos rendidos a slogans populistas, dos medos incendiados pelo terrorismo e pelas imagens do “estado Islâmico”. A Europa sucumbiu ao seu pequeno conforto. Do ponto de vista moral, a atitude face à migração é assustadora. Todos os dias somos bombardeados por imagens de mortos a flutuar ou de pessoas desesperadas, mas preferirmos a proteção do nosso “bem-estar” à proteção da vida, quando ao mesmo tempo países como o Líbano ou a Turquia receberam mais de um milhão de refugiados. Se a Europa recebesse um milhão de refugiados, isto representaria um refugiado por cada 510 habitantes e quanto ao argumento da invasão muçulmana (que justifica o tal “medo”), na Europa os muçulmanos representam 6% da população, sendo que em países como a França representam apenas 7,5% (longe da “invasão”). Do ponto de vista socioeconómico as razões são ainda menos válidas, dado que a maioria dos estudos aponta efeitos positivos no crescimento económico – mais consumidores e mais trabalhadores, que não geram necessariamente desemprego porque muitas vezes assumem postos de trabalho que não são desejados pelos locais, criam os seus negócios ou ocupam posições carenciadas contribuindo para a acumulação de capital humano.

Esta questão é ainda mais relevante num Continente envelhecido como o Europeu, sendo exemplo disso Portugal, que à baixa natalidade junta a sua emigração (fenómeno histórico português, que torna ainda menos moral uma posição contra a imigração), onde as atuais projeções reduzem o país a 5 milhões de habitantes em 2050, com todas as consequências negativas que daí advêm. Posições mais chocantes são as de países como a Hungria (uma quase-ditadura) ou a Inglaterra, com uma posição hostil à migração até da própria UE (isto quando é uma das economias que mais crescimento teve gerado pela imigração de todo o mundo!). Não nego o choque cultural ou a ameaça terrorista, mas aí recordo horrificamente Anders Breivik. Caberá, portanto, à Europa seguir os seus valores, assimilar as populações (de resto como o fez historicamente e como o faz os EUA) e tornar o mundo num lugar melhor.