Crónicas de Gestão | Empreendedorismo e limonada

Numa semana de dados económicos relevantes (dados sobre o desemprego e o défice de 2015) seria fácil apontar as contradições de políticas – principalmente as da Comissão Europeia (CE), já que um governo (o anterior) que seguiu as fórmulas exigidas por esta, não conseguiu atingir os resultados de défice esperados em 2015. Paradoxalmente esta CE quer agora castigar o Estado português que havia seguido as suas indicações (que de facto, agora, até se tem afastado de algumas das suas prescrições). Não vou entrar num outro paradoxo que é uma CE liberal que proíbe qualquer tipo de favorecimento aos privados (como ajudas a bancos e companhias aéreas), mas favorece entidades específicas em privatizações/vendas.

Permita-me então o leitor uma deriva mais conceptual para o fenómeno do empreendedorismo. Sabemos hoje que a educação para o empreendedorismo deve começar muito mais cedo do que no ensino superior (onde, muitas vezes, os alunos chegam já com o “receio inscrito no seu ADN”). Este tema deve ser abordado no ensino básico, secundário, permitindo aos alunos explorar ideias, pensar o negócio e em todas as vicissitudes necessárias para o fazer crescer. De facto, muitas escolas e entidades perceberam a importância desta questão e, nos últimos 10 anos, a promoção do empreendedorismo tem sido parte integrante dos curricula (formal ou informalmente). Esta é uma atitude que segue um exemplo positivo norte-americano, onde é tradicional incutir o espírito do “negócio” desde cedo nas crianças – certamente o leitor terá visto, em algum filme ou série, a famosa “barraquinha de limonada” (ou a venda de garagem) onde as crianças tentam, à porta de casa dos pais, gerar algum retorno vendendo copos de limonada fresca. Esta é uma forma de colocar as crianças em contacto com dinheiro, vendas e custos, que se opõe a uma certa antiga tendência nacional de afastar as crianças do dinheiro, dos negócios, das vendas (e muitas vezes os alunos chegavam aos 18 anos sem saber o que é um cheque ou uma fatura e com a tendência para desconfiar de todas as formas empresariais).

 

Neste sentido, as novas gerações parecem agora mais preparadas para arriscar, para encetar processos de tentativa e erro (porque o fracasso não tem de ser estigmatizado) e cortar algumas das amarras culturais que as prendiam. E isto é tão mais necessário quando temos à porta uma revolução empresarial.

 

 

Crónica publicada na edição de 19 de maio de 2016 do Jornal de Leiria.