Antes de mais é necessário realçar que o impulso para mais empreendedorismo, mais inovação tecnológica e mais criação de conhecimento é algo economicamente muito positivo. O empreendedorismo é o elo perdido que permite a transformação de conhecimento puro em conhecimento economicamente útil, que chega ao mercado sobre a forma de produtos ou serviços. Estas novas empresas têm esta tarefa e ao fazê-lo criam também ecossistemas de redes de conhecimento, que podem ajudar e potenciar o nascimento de outros negócios ou a melhoria dos negócios existentes (fornecendo serviços inovadores a setores mais tradicionais, como é o caso de algoritmos de otimização de estufas na agricultura – por exemplo a empresa CoolFarm – ou de software de produção industrial – por exemplo, a empresa ProdSmart).
Estes efeitos far-se-ão sentir mesmo que 70% destas empresas feche até ao quarto ano de existência (como nos dizem as estatísticas mais conservadoras). Alguma investigação afirma que as startups são uma forma (cara) de recrutamento, porque as grandes empresas saberão assim quem são os “engenheiros estrela” que poderão liderar os seus departamentos de I&D, contratando os líderes destes projetos empreendedores. O problema com a “economia startup” em Portugal é que as condições de base ainda não existem para o impacto se faça sentir a curto prazo e no país todo. Não existe uma força de trabalho com elevada formação em áreas tecnológicas (ou outras – Portugal tem 48% da população ativa com ensino secundário e/ou superior versus 91% na Republica Checa e Polónia ou 85% na Irlanda). Não existem ainda muitos campões que criem efeitos de arrastamento (como uma Microsoft ou Apple na Irlanda, uma SAP na Alemanha ou CD Projekt na Polónia).
No fundo, se este pode ser o início de um novo caminho ligado à economia do conhecimento, existem muitos passos para o conseguir, sobretudo que passam pela modernização de setores tradicionais (veja-se o caso da Zara em Espanha, cujo sucesso passou sobretudo pela inovação de processo nas cadeias de logística) ou de outros em que somos particularmente competitivos (como aconteceu no caso do calçado ou poderá acontecer no vinho, na cerâmica e em outros setores).
Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 10 de novembro de 2016.