A “tragédia dos comuns” pode ser descrita como um problema económico em que cada indivíduo tenta obter o maior retorno possível de um determinado recurso (usualmente um recurso partilhado). À medida que a procura pelo recurso agrava a oferta, todos os indivíduos que consomem uma unidade adicional prejudicam diretamente os outros (eventualmente destruindo esse recurso). Geralmente este recurso é facilmente acessível a todos os indivíduos. No fundo, a tragédia dos comuns ocorre quando as pessoas, ao procurarem o ganho pessoal, negligenciam o bem-estar da sociedade. A pesca ao largo das costas é um excelente exemplo da tragédia dos comuns. Ao longo de centenas de anos, os pescadores acreditavam que os “bancos de pesca” eram quási infinitos. Contudo, à medida que a tecnologia evoluiu, os pescadores aumentaram a competição entre si, pescando cada vez mais peixe. Quando o recurso se torna escasso (neste caso espécies de peixe), o seu valor aumenta, criando incentivos para a sua sobre utilização. Outra questão subjacente a este problema é que aqueles que utilizam abusivamente os recursos têm custos marginais inferiores aos indivíduos que não o fazem. Assim, um pescador que sobrepesca terá maiores retornos e, da mesma forma, uma empresa que maximiza a utilização do seu ecossistema – poluindo – tem custos inferiores relativamente às empresas que não o fazem. Esta ligação cria incentivos para um maior desrespeito, ou seja, se a maioria dos indivíduos utiliza o recurso excessivamente, logo isso gera um incentivo para o resto da população o fazer também (num país em que ninguém respeita o ambiente, a empresa que o faz está em desvantagem). Esta longa explicação económica está assente nos problemas da natureza humana e do cego ganho pessoal. Essa cegueira está em quase todos nós. Na minha rua existe um semáforo de velocidade, mas os automóveis que aceleram suficientemente conseguem deixar o sinal vermelho para todos os que, atrás de si, cumprem o limite de velocidade. Este ganho cego é o espelho da estultícia humana, porque é rara a pessoa que pensa que amanhã estará na mesma posição dos cumpridores (ou então a maioria dos cumpridores, dado o seu “custo marginal superior”, cria “sentimentos de vingança”). Seja um semáforo, seja o planeta, é importante pensarmos muitas vezes mais cooperativamente, pois o nosso futuro depende disso.
Crónica publicada no Jornal de Leiria a 14 de setembro de 2017.