Vítor Ferreira
Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
Uma recente auditoria do “tribunal de contas europeu” descobriu que, “surpreendentemente”, as políticas implementadas pelo FMI e Comissão Europeia na Grécia não funcionaram. Na verdade, há quem afirme que os governos gregos não fizeram o suficiente e que o país continua a sofrer dos mesmos vícios (falta de iniciativa privada, excesso de tamanho do setor público, falta de reformas, etc.). Na verdade, o setor público está abaixo da média da OCDE, não existem mais empresas públicas para privatizar, a Grécia lidera o ranking da OCDE de reformas e, finalmente, a Grécia tem um superavit primário desde há 4 anos, sendo que o grande encargo são os juros a suportar. Na prática, os sucessivos resgates da Grécia, ainda que tenham permitido ao país implementar reformas, liberalizar o mercado de trabalho e diminuir a sede por endividamento, estiveram também centrados em resguardar os credores e evitar um default. Simultaneamente, a Grécia atingiu 22% de taxa de desemprego e o seu PIB está 7% abaixo dos valores de 2008 (para além dos números é preciso realçar a quantidade de pessoas que morreu de forme, que se suicidou ou que abandonou o país). A discussão sobre como a situação da Grécia é um misto de incúria das políticas nacionais, mas também um resultado normal do funcionamento imperfeito da União Monetária (UM), tem sido de novo adiada pela fase de crescimento em que vivemos (com Portugal e, sobretudo Espanha, a crescerem e reduzirem os seus déficits). Mas esta questão depressa voltará à ordem do dia, porque continua sem existir uma política económica europeia, um orçamento europeu que permita investir nos países prejudicados pelo diferencial de competitividade (no fundo, nós fazemos a nossa parte, mas a Alemanha não faz a dela). Há quem afirme que o governo português está perigosamente a voltar a vícios passados (concordo que existem medidas duvidosas, mas existe também uma melhor compreensão da economia). O perigo esconde-se sobretudo nos permanentes desequilíbrios da UM e na gritante falta de compreensão económica (negligente ou propositada?) das autoridades europeias. Veremos então se as lições da tragédia grega servirão de alguma coisa.
Crónica publicada no Jornal de Leiria a 30 de Novembro de 2017.