A subida da Tesla | Crónicas de Gestão

Na passada semana a Tesla chocou o mercado apresentando…lucros. Os lucros ajustados por ação foram de 1,83 dólares, quando os analistas estimavam um valor de negativo de 24 cêntimos por ação. Estes resultados surgem depois de dois trimestres em que a empresa tinha perdido mais de mil milhões de dólares, resultando em ganhos de mais de 30% em bolsa. No ano passado a Tesla entregou 245.240 veículos a clientes. No ano anterior, entregou pouco mais de 100.000 veículos. Em 2019, a empresa promete entregar mais do que isso – pelo menos 360.000 veículos (e já entregou cerca de 255.000). Por curiosidade na Noruega, em 2019, 30% dos carros vendidos foram da marca americana (de todos os carros e não apenas dos carros elétricos). Mas o que tem de mágico a empresa de Elon Musk? A Tesla é a primeira empresa automóvel a entrar no mercado de produção em massa nos últimos 30 anos (salvo a exceção de grupos chineses) e conseguiu fazê-lo focando-se numa tecnologia que estava na sua fase de lançamento. A empresa é reconhecida pela autonomia das suas baterias elétricas, mas também pelo nível de tecnologia subjacente ao automóvel (a Tesla é líder em carros inteligentes e semiautónomos). O apelo da Tesla vem dos seus carros serem elétricos – num mundo de pressões ambientais este é um grande trunfo e sim, caro leitor, apesar daquele “estudo” que leu no Facebook os carros elétricos são menos poluentes do que os a combustão, mesmo tendo em conta a exploração de lítio e a reciclagem de baterias. Mas o seu sucesso advém também da sua tecnologia – a Tesla é igualmente uma empresa de dados: cada carro na estrada é um ponto de aprendizagem para um modelo de inteligência artificial que vai incrementando os seus conhecimentos (a Tesla tem uma base de “carros a aprender” muito maior do que os seus rivais). Desta forma, um mercado maduro onde os construtores europeus, americanos e japoneses imperavam acaba por ser disrupcionado por mais uma empresa americana. Este é um exemplo clássico do “dilema do inovador”. As grandes empresas estão presas a uma base enorme de clientes, fazendo pequenas melhorias e inovações nos produtos que essa base “pede”, mas isso deixa nichos para serem explorados por novas empresas que apostam numa nova tecnologia. Quando a nova tecnologia se torna apelativa para a base das grandes empresas, estas estão demasiado atrasadas para competir com os “entrantes”. Isto é exatamente ao que estamos a assistir e que, curiosamente, tem um elevado impacto na economia da região de Leiria (mas é algo que não tem sido amplamente falado). Resta saber até onde subirá a Tesla e se os gigantes europeus acordarão a tempo.

Crónica publicada no Jornal de Leiria